No arti­go Ani­mal Antipolíti­co, pub­li­ca­do orig­i­nal­mente por Sul 21, Alfre­do Attié fala sobre a ausên­cia de com­pro­me­ti­men­to políti­co do ex-pres­i­dente da Repúbli­ca, seu caráter antipolíti­co e com­por­ta­men­to crim­i­noso, na con­se­cução de um regime anti­con­sti­tu­cional.

Acesse a pub­li­cação orig­i­nal,  por meio deste link, do Por­tal 21, ou acom­pan­he a seguir.

Animal Antipolítico

Alfredo Attié

“Um crim­i­noso abso­lu­to, que nun­ca foi políti­co. Nun­ca foi políti­co porque se pôs con­tra a políti­ca. Seu mun­do é o mun­do pri­va­do e não o mun­do públi­co. O mun­do pri­va­do do mero inter­esse. Inter­esse próprio.

Crim­i­noso abso­lu­to porque o crime não é ato excep­cional, mas nor­mal, com­põe o seu cotid­i­ano, car­ac­ter­i­za o seu modo de viv­er e de se apre­sen­tar per­ante os out­ros. Out­ros que não impor­tam, não são con­sid­er­a­dos a não ser da per­spec­ti­va do inter­esse próprio.

Em sua mesquin­hez e medioc­ridade, com­preende ple­na­mente o que faz. Faz o que quer faz­er porque entende ter dire­ito a come­ter crimes – mar­ca de seu dia a dia, volta­do para si e os seus.

Está con­vic­to de que tem dire­ito e dev­er de come­ter crimes. Em vista dis­so, com­põe o seu modo de ser e de agir.

Mesquin­hez, medioc­ridade, covar­dia se unem para que ele ape­nas insin­ue e dê ordens a pes­soas que a ele se sub­or­di­nam docil­mente e prati­cam os atos necessários a atin­gir aque­les inter­ess­es, ilíc­i­tos no modo como se per­pe­tram e na maneira como se escon­dem. Agem como se o mun­do estivesse restri­to a sua vida pri­va­da e ao que podem auferir de seus crimes. Por isso agem às escon­di­das, ten­tam enco­brir o que fazem.  Sig­i­lo de cem anos, viagem sec­re­tas, pre­sentes da cor­rupção ocul­ta­dos, atos de ven­da sim­u­la­dos. Sobre­tu­do a imposição de medo às out­ras pes­soas. Ofen­sas, que tam­bém são crimes, atos de cru­el­dade. Alianças com o ofi­cial e o ino­fi­cial para come­ter crimes, vis­tos como con­du­ta nor­mal para atin­gir o inter­esse próprio, tiran­do do alheio seus dire­itos para que se trans­formem em priv­ilé­gios.

Foi trata­do por boa parte da mídia e por boa parte da sociedade brasileira como legí­ti­mo gov­er­nante. Mas chegou à presidên­cia porque come­teu crimes. Por ess­es, não foi con­de­na­do, ten­do em vista o despreparo de insti­tu­ições para com­preen­der o que se pas­sa­va ou mes­mo por uma aliança de insti­tu­ições por enten­derem que o que se pas­sa­va fazia parte da políti­ca.

Absolvi­do pelo min­istério públi­co, pelo judi­ciário, pelo poder leg­isla­ti­vo, pela justiça eleitoral. Mes­mo com todas as evidên­cias desse agir inter­es­seiro, antipolíti­co e anti­jurídi­co, per­maneceu qua­tro anos osten­tan­do a posse de um car­go que nun­ca exerceu. Deixou de ser con­sid­er­a­do inca­paz de exercer esse car­go, em razão de mais uma omis­são insti­tu­cional. Pas­sou a cir­cu­lar como ex- e bus­cou fin­gir que seria ex-. Ex‑o que nun­ca foi.

Seus ali­a­dos ocu­param o espaço de poder. Muitos ali per­manecem, impedin­do de mil maneiras que o gov­er­no democráti­co volte a se impor, para que dire­itos, deveres e políti­cas públi­cas deter­mi­nadas pela Con­sti­tu­ição voltem a ser o fim e o modo nor­mal de gov­ernar.

A sociedade somente vai se lib­er­tar da tor­tu­ra de sua pre­sença se pas­sar a agir con­vic­ta de que se trata­va não de um caso de políti­ca, mas de polí­cia. Um ator antipolíti­co e anti­jurídi­co, inimi­go da Con­sti­tu­ição, que viveu em casa durante todo o tem­po, cuidan­do de si e dos seus. Chamou sua casa de palá­cio. Chegou a emprestar um de seus palá­cios a um ali­a­do. Nun­ca ocupou espaço públi­co algum, a não ser para impor­tu­nar e prej­u­dicar.

As insti­tu­ições acor­daram a tem­po de impedir que novos crimes lev­assem a uma nova con­cessão de manda­to ilegí­ti­mo – não a tem­po de impedir que seus méto­dos e seus ali­a­dos e ali­adas cri­assem raízes no poder – mes­mo que frágeis raízes. Ações de ordem admin­is­tra­ti­va (inquéri­tos no judi­ciário e admin­is­tração da justiça eleitoral) deter­mi­naram o fim de sua ten­ta­ti­va de reeleição. Perce­ber­am que o golpe esta­va tra­ma­do para o caso de as ações ilíc­i­tas para alter­ar o resul­ta­do eleitoral não vin­garem.

Prisões pre­ven­ti­vas de ali­a­dos. Perí­cias. A cor­rente se fechou, rap­i­da­mente, após aque­le des­per­tar insti­tu­cional. Fal­ta o pas­so deci­si­vo que fará ruir pre­ten­sões e farsas de ali­a­dos aparente­mente obsti­na­dos e de fanáti­cos sub­mis­sos.