A Acad­e­mia Paulista de Dire­ito faz pub­licar, pela importân­cia de seu  con­teú­do e do even­to de hom­e­nagem, real­iza­do pela Pon­tif­í­cia Uni­ver­si­dade Católi­ca de São Paulo e sua Fac­ul­dade de Dire­ito, ao Min­istro do Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al e jurista Edson Fachin, em São Paulo, no mês de março de 2024.

O Dis­cur­so foi pro­feri­do pelo Pro­fes­sor Livre-Docente da PUC.SP, Acadêmi­co Tit­u­lar da Acad­e­mia Paulista de Dire­ito, da qual foi Pres­i­dente, Rogério Don­ni­ni.

A cer­imô­nia cor­re­spon­deu à entre­ga do Colar de Eméri­to Acadêmi­co da Fac­ul­dade de Dire­ito da PUC.SP ao Pro­fes­sor Fachin, que, em seu dis­cur­so de agradec­i­men­to,  exal­tou a importân­cia do Esta­do Democráti­co de Dire­ito: “apan­ho tam­bém um laço, ago­ra entre con­sti­tu­ição e sobera­nia, para pro­je­tar luz no que enten­do que se encon­tra em tes­si­tu­ra no espaço da dis­putabil­i­dade de sen­ti­dos neste sécu­lo 21, ou seja, no esta­do de dire­itos humanos e fun­da­men­tais que redesen­ha a noção de sobera­nia, fazen­do man­i­fes­tar-se a sociedade transter­ri­to­ri­al­iza­da. É a Con­sti­tu­ição que cria as insti­tu­ições des­ti­nadas a con­cretizar os dire­itos humanos e fun­da­men­tais, que par­til­ha o poder para evi­tar o arbítrio e que descen­tral­iza para que tais dire­itos pos­sam chegar aos rincões em que vivem brasileiras e brasileiros. É a con­sti­tu­ição que norma­ti­za os princí­pios que con­duzem ao ade­qua­do fun­ciona­men­to das insti­tu­ições, garan­ti­n­do com força vin­cu­lante e obri­gatória o trata­men­to não dis­crim­i­natório, o fun­da­men­to das ter­ras e dos dire­itos indí­ge­nas, o dire­ito a edu­cação, a seguri­dade social, a autono­mia uni­ver­sitária, o dire­ito a vida e a segu­rança, a sociedade livre da vio­lên­cia, a saúde e ao meio ambi­ente eco­logi­ca­mente equi­li­bra­do, a liber­dade reli­giosa, o dire­ito a pro­priedade e a redução da pobreza e das desigual­dades soci­ais e region­ais.

Coube ao Pro­fes­sor Vidal Ser­ra­no, então Dire­tor da Fac­ul­dade de Dire­ito, e atu­al Reitor da PUC.SP, Acadêmi­co Tit­u­lar da Acad­e­mia Paulista de Dire­ito, pro­ced­er à entre­ga do Colar de Méri­to ao Min­istro Fachin..

Den­tre tan­tas autori­dades e diante do auditório lota­do, esteve pre­sente a esposa do hom­e­nagea­do, Rosana Ama­ra Girar­di Fachin, desem­bar­gado­ra aposen­ta­da do Tri­bunal de Justiça do Esta­do do Paraná.

Leia o dis­cur­so de Don­ni­ni, a seguir.

Mag­ní­fi­ca vice-reito­ra, Douto­ra Ângela Lessa, Exce­len­tís­si­mo Dire­tor da nos­sa tradi­cional Fac­ul­dade Paulista de Dire­ito da PUC-SP, Pro­fes­sor Vidal Ser­ra­no, Exce­len­tís­si­mo Min­istro Edson Fachin, autori­dades aqui pre­sentes, ilus­tres cole­gas, meus pro­fes­sores, cole­gas atual­mente, meus queri­dos alunos, min­has  sen­ho­ras e meus sen­hores, a quem cumpri­men­to na pes­soa da Douto­ra Rosana Fachin, que nos hon­ra com a pre­sença. 

         Eu vou ser breve, aliás o nos­so dire­tor me pediu abso­lu­ta bre­v­i­dade e eu me lem­bro da máx­i­ma vita bre­vis ars lon­ga, ou seja, a arte é lon­ga e a vida breve, mas nesse mun­do instan­tâ­neo em que vive­mos, bre­v­i­dade não seria a palavra mais ade­qua­da, pois nós deve­mos ser brevís­si­mos nos dias de hoje e eu apren­di a duras penas ser sucin­to logo que me formei aqui nes­ta Fac­ul­dade. Atu­a­va nes­sa época em todas as áreas do Dire­ito e um cliente me procurou para que eu o defend­esse, pois ele havia atro­pela­do um transe­unte bêba­do à noite, que atrav­es­sa­va fora da faixa de pedestres e respon­dia a um proces­so-crime. Era um caso típi­co de absolvição, até porque se trata­va de uma lesão cor­po­ral leve, mas o Min­istério Públi­co insis­tia na sua con­de­nação. Eu o defen­di e na audiên­cia tin­ha vinte min­u­tos para a apre­sen­tação das ale­gações finais. O juiz deu a enten­der que eu não pre­cisa­va faz­er aque­la per­oração, mas eu havia me prepara­do para tan­to. Ini­ciei de maneira ráp­i­da, inces­sante, e já pas­sa­va das 19h00. Depois de dez min­u­tos falan­do, sem pon­to, sem vír­gu­la, o juiz, in ver­bis, disse o seguinte: “Doutor, por favor, ven­ha aqui”. Eu fui e ele, um mag­istra­do expe­ri­ente, afir­mou: “Se o doutor con­tin­uar falan­do, eu con­de­no o seu cliente”.

         Gostaria, antes de tudo, cumpri­men­tar a Fac­ul­dade de Dire­ito por essa ini­cia­ti­va, que é fun­da­men­tal para alguém que não ape­nas merece esse tipo de hom­e­nagem, mas é um ícone do nos­so Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al.

         Eu tive o priv­ilé­gio de con­hecer o nos­so hom­e­nagea­do bem antes de ter sido ele alça­do ao Pretório Excel­so, par­tic­i­pamos de Ban­cas de Doutora­do, tive­mos aqui na casa um grande ami­go, que é tam­bém um ícone do dire­ito, o saudoso Pro­fes­sor Arru­da Alvim, um sím­bo­lo do dire­ito de todos os tem­pos, taman­ha a sua mag­ni­tude. Tive­mos tam­bém a opor­tu­nidade de hom­e­nagear um ilus­tre pro­fes­sor aqui da casa,  em duas obras que escreve­mos em con­jun­to, o pro­fes­sor Rui Ger­al­do Camar­go Viana. Enfim, des­frutei do con­hec­i­men­to do nos­so hom­e­nagea­do, tro­camos livros, o que eu enviei a ele não tin­ha o mes­mo bril­ho, óbvio, mas ele fez uma ded­i­catória que me emo­cio­nou bas­tante à época.

         É impor­tante fris­ar que atual­mente alguns dos nos­sos mag­istra­dos, incluin­do, em espe­cial, aque­les dos Tri­bunais Supe­ri­ores, têm alter­ado o seu com­por­ta­men­to nos últi­mos tem­pos. Eu me lem­bro aqui das aulas de Mestra­do e de Doutora­do, de um jurista, Johan Huizin­ga, que escreveu em 1938 a obra Homo ludens, isto é, o homem lúdi­co, aque­le que, nos dias de hoje, é afeito às câmeras, às entre­vis­tas, o homem que aparece na mídia, o homem social. Esse homo ludens  aparece numa ter­ceira fase do com­por­ta­men­to humano. A primeira é a do homo faber, o con­stru­tor; a segun­da, do ani­mal lab­o­rans, aque­le que tra­bal­ha e vive em uma sociedade de mas­sa, de con­sumo; e a ter­ceira fase (homo ludens) é daque­le que real­iza, na real­i­dade, um espetácu­lo, é o ser humano espetácu­lo. E eu diria o seguinte, usan­do dessa mes­ma mes­ma lin­guagem, seria aque­le mag­i­s­tra­tus ludens, que ado­ra uma ilu­mi­nação das câmeras e nor­mal­mente pre­jul­ga, o que leva a nos­sa democ­ra­cia a um sério risco de descon­fi­ança, o que é pés­si­mo.

         Difer­ente­mente desse tipo de juiz, o nos­so hom­e­nagea­do, Min­istro Fachin, age da maneira mais ade­qua­da para um jul­gador, pois ele é dis­cre­to, age sem­pre com dis­crição, soma­do esse fato à sua inve­jáv­el capaci­dade int­elec­tu­al, que eu tive o priv­ilé­gio e todos nós temos ao nos deparar­mos com seus votos, con­cordemos ou não, ele segue à risca o req­ui­si­to máx­i­mo para ser um inte­grante do Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al, flex­i­bi­liza­do em alguns casos ulti­ma­mente, que é o notáv­el saber jurídi­co. Meu caro puquiano Fachin, esta casa tem orgul­ho de tê-lo na mais alta Corte do País. Muito obri­ga­do.”