Em sua edição de 31 de agosto de 1918, o Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, então Capital da República, afirmava que se chamava de “feminismo o exercicio de profissões liberaes pelas mulheres, porque nas classes proletarias sempre houve feminismo”. Em seguida, anunciava, e iniciava o debate sobre a inscrição de uma mulher, ou “senhorinha” no concurso do Itamaraty, para diplomata. Seguiram-se as provas e os debates. Ao final, “Mlle“Maria José de Castro Rebello Mendes veio a ser aprovada em primeiro lugar, tornando-se, por nomeação, em 28 de setembro daquele ano, a primeira mulher servidora pública — por concurso, a primeira diplomata brasileira.
Os debates continuaram, como conta Guilherme Friaça, em seu Mulheres Diplomatas no Itamaraty (1918–2011), cabendo a Carlos de Laet, nas páginas do Jornal do Brasil, no artigo “O Feminismo Triumpha”, a defesa da nomeação e da causa feminista:
“Talvez não se tenha demorado o espirito publico a apreciar a imensa importância que um dos ultimos actos do Governo possue, e que vae affectar a nossa organização social profundamente, pelo valor de grave reforma de costumes em que importa. O governo nomeou a Sra. Maria José de Castro Rebello Mendes, terceiro official da Secretaria das Relações Exteriores, isto é, abriu á mulher brasileira a carreira de funccionaria publica, qualquer que seja o cargo a prover… As mulheres de oravante, não tem suas aspirações limitadas ao professorado e ás agencias de Correio. Como qualquer cidadão, podem se inscrever nos concursos abertos nos diversos Ministerios, e, taes sejam as suas habilitações concorrer á nomeação, em perfeito pé de egualdade… No Brasil onde o feminismo era flor exotica, no Brasil do lar á antiga, uma mulher, por meio de um simples requerimento, consegue o que um seculo de trabalhos não deu ás mulheres dos paizes mais adiantados do mundo, nem mesmo ás dessa nação nova que se constituiu pelo seu poder e progresso, em arbitro dos destinos da humanidade – os Estados Unidos”.
A Academia Paulista de Direito celebra o centenário daquilo que Laet chamou de o triunfo do feminismo, com evidente otimismo, tendo em vista a história dos últimos cem anos, que tem como marco o ingresso de “Marietta“no funcionalismo público.. Mas com a vontade de fundar, de impulsionar uma luta que merece o apoio da sociedade, e impede que qualquer retrocesso obstaculize o destino que o Brasil deve ter entre as Nações, o da igualdade, construída com esforço, e o da afirmação dos direitos humanos.
Parabéns às diplomatas, às servidoras públicas e às mulheres brasileiras.
(A fotografia pertence ao arquivo do Ministério das Relações Exteriores)