Em impor­tante arti­go, opor­tuno, críti­co e inspi­rador, o Pro­fes­sor Tit­u­lar da Pon­tif­í­cia Uni­ver­si­dade Católi­ca de São Paulo, e Con­sel­heiro do Núcleo Fé e Cul­tura da Arquid­io­cese de São Paulo, Wag­n­er Balera, Acadêmi­co Tit­u­lar e ex-Pres­i­dente da Acad­e­mia Paulista de Dire­ito, dis­cu­tiu o tema da men­ti­ra e seus con­tornos éti­co-cristãos.

Leia a seguir a ínte­gra do tex­to “O Pai da Men­ti­ra”, pub­li­ca­do, orig­i­nal­mente, em O São Paulo, semanário da Arquid­io­cese.

“Eis um títu­lo que ninguém parece quer­er assumir e que, no entan­to, se ajus­ta per­feita­mente a muitos e muitos que, nos últi­mos tem­pos, irra­di­am men­ti­ras. Mais pro­pri­a­mente ess­es não são pais, e, sim, fil­hos do pai da men­ti­ra.

O dono do títu­lo está clara­mente iden­ti­fi­ca­do des­de sem­pre. Não está sub­meti­do ao tem­po, tam­pouco ao espaço. Sim­ples­mente atua.

O que quer, afi­nal, ao espal­har tan­ta men­ti­ra? Con­fundir, cri­ar oposições, desagre­gar. Ina­ceitáv­el para ele é a paz social; a con­cór­dia; a har­mo­nia. Emb­o­ra esse sujeito, como dito aci­ma, não está no tem­po nem no espaço, lá onde este­jam pre­sentes ess­es val­ores ele não quer ficar. Pref­ere ser lança­do ao abis­mo con­fig­u­ra­do em man­a­da de por­cos, que bem aqui rep­re­sen­tam o sím­bo­lo da impureza, da suji­dade e de tudo o que repugna aos que apre­ci­am e alme­jam viv­er em paz.

Esta­mos, é cer­to, diante de grave prob­le­ma. Recebe­mos, cotid­i­ana­mente, cen­te­nas de mil­hares de men­ti­ras. Chegam, por vezes, com anôn­i­mo “encam­in­hado”. E, des­graçada­mente, cada vez que retrans­miti­mos essas men­ti­ras, assum­i­mos a fil­i­ação daque­le sujeito.

Temos, pois, dois deveres graves. O primeiro é o de nos recusar­mos cabal­mente a atu­ar como cor­reias de trans­mis­são de men­ti­ras. Vai dar tra­bal­ho, pois só poder­e­mos reen­viar matérias que ten­ham sido sub­meti­das ao cri­vo ele­men­tar da ver­dade. E se não for pos­sív­el a ver­i­fi­cação? Há um clique rápi­do a ser uti­liza­do. O ícone o define com pro­priedade: é a lata de lixo. O segun­do dev­er grave e esse, segu­ra­mente, é de maior gravi­dade do que o primeiro, con­siste no dev­er de aler­tar­mos a quem nos envi­ou a men­ti­ra, vale diz­er, se fez por­ta­dor do lixo. Prati­care­mos, nada mais nada menos, do que a obra de mis­er­icór­dia da cor­reção fra­ter­na.

Não será tare­fa fácil essa. Dev­er­e­mos exer­cê-la, porém, com o deste­mor assi­nal­a­do por San­ta Tere­sa de Jesus: “Custe o que cus­tar, mur­mure quem mur­mu­rar, quer chegue ao fim quer mor­ra no cam­in­ho…”

Por que esse encar­go será tão cus­toso? É que o pai do men­tiroso o fará se con­vencer que nós não somos ami­gos dele. Quem somos nós para cor­ri­gi-lo? E acabará cain­do na arti­man­ha de con­sid­er­ar que não somos pes­soas de bem.

Mas, fique bem claro: não podemos servir a dois sen­hores. O Sen­hor a quem quer­e­mos servir se define com pre­cisão: Eu sou a ver­dade!

Neste momen­to, força recon­hecer, o pai da men­ti­ra e seus sequazes atu­am em diver­sos lugares e em diver­sos momen­tos. Seu nome? Legião.

Para vencer­mos a hoste men­tirosa, só con­ta­mos com a Ver­dade, que opera como instân­cia lib­er­ta­do­ra e que tem um Nome. Entre­tan­to, a inscrição nas suas fileiras exige que deix­e­mos de lado os respeitos humanos.

Não fique­mos de fora desse com­bate; o bom com­bate! Não nos quedemos à beira do cam­in­ho, enquan­to assis­ti­mos o der­ruir de pes­soas e de insti­tu­ições!

Não ten­hamos medo, disse São João Paulo II aos 22 de out­ubro de 1978, bem no iní­cio de seu pon­tif­i­ca­do. A Ver­dade e seu Sen­hor estão do nos­so lado. ”