Jorge Mario Bergoglio, argenti­no de nasci­men­to, foi o Papa Fran­cis­co, primeiro líder da Igre­ja Católi­ca lati­no-amer­i­cano e orig­inário da Com­pan­hia de Jesus. Fale­ceu hoje, 21 de abril de 2025, em Roma.

For­ma­do em Filosofia pela Fac­ul­dade de São Miguel, da qual foi pro­fes­sor, doutorou-se em teolo­gia pela Uni­ver­si­dade de Freiburg, na Ale­man­ha. Padre, orde­na­do em 1969, foi nomea­do bis­po de Auca e aux­il­iar, depois arce­bis­po, de Buenos Aires, em 1992 e 1998, respec­ti­va­mente, tor­nan­do-se cardeal, em 2001, nomea­do por João Paulo II. Aos 76 anos, tornou-se papa, quan­do fez hom­e­nagear Fran­cis­co de Assis — san­to católi­co, que viveu nos sécu­los XII e XIII, época de inten­sas mudanças nos des­ti­nos do cris­tian­is­mo oci­den­tal, impor­tantes delas real­izadas por sua vocação de ded­i­cação aos pobres, sua lig­ação com a natureza e sua posição reformista espir­i­tu­al e mate­r­i­al —, ao assumir, pela primeira vez, o nome de Fran­cis­co, na história do papa­do, deixan­do de lado as ves­ti­men­tas pro­to­co­lares tradi­cionais do car­go e se apre­sen­tan­do sem­pre vesti­do de bati­na bran­ca, lem­bran­do as ves­ti­men­tas sim­ples da figu­ra cujo exem­p­lo dese­jou seguir.

Fran­cis­co pro­fes­sou e prati­cou uma reli­giosi­dade do encon­tro, aprox­i­man­do-se das per­ife­rias mate­ri­ais e exis­ten­ci­ais do mun­do, procu­ran­do o diál­o­go, inclu­sive inter-reli­gioso, assim se mostran­do dis­cípu­lo fiel das decisões tomadas pelo Con­cílio Vat­i­cano II, con­vo­ca­do por João XXIII e real­iza­do por ele e por seu suces­sor Paulo VI, entre 1961 e 1965.

Suas men­sagens e pro­je­tos aos católi­cos e católi­cas foram veic­u­ladas por suas Encícli­cas, Luz da Fé (Lumen Fidei), de 2013: Lou­va­do Seja (Lauda­to Si’), de 2015: Todos irmãos (Fratel­li Tut­ti), de 2020, em que lem­bra­va e ampli­a­va a visão comu­nitária da igre­ja do cri­ador da ordem fran­cis­cana, ultra­pas­san­do as bar­reiras espa­ci­ais e políti­co-geográ­fi­cas da con­strução da irman­dade uni­ver­sal; e Amou-nos (Dilex­it Nos), de 2024, em que salien­ta­va a dimen­são reli­giosa do amor e da amizade.

Tam­bém pub­li­cou o livro Evan­geli Gaudi­um (A Ale­gria do Evan­gel­ho), em que crit­i­ca­va forte­mente o sis­tema cap­i­tal­ista, por seu caráter anti-humano e destru­idor, bem como exor­ta­va a um com­pro­me­ti­men­to apos­tóli­co mais exis­ten­cial, mais próx­i­mo de, e viva­mente conec­ta­do com a comu­nidade e o povo.

Líder cora­joso, com­pro­m­e­teu-se com a ver­dade, enfrentan­do graves prob­le­mas (esta­b­ele­cen­do a vis­i­bil­i­dade dosa proces­sos por crimes cometi­dos pelos mem­bros da igre­ja e a supressão de inco­lu­mi­dade), pedin­do perdão por erros e omis­sões da igre­ja em relação a víti­mas.

Tam­bém bus­cou super­ar pre­con­ceitos sérios da Igre­ja, com a aprox­i­mação dos mais pobres, a par­tic­i­pação das mul­heres e sua legit­im­i­dade para votação em reuniões con­sul­ti­vas dos bis­pos (os sín­o­dos). Tocou em assun­tos antes evi­ta­dos e assum­iu posição de acol­hi­men­to dos dis­crim­i­na­dos e dis­crim­i­nadas até aqui, fazen­do autor­izar a aprox­i­mação de tran­sex­u­ais e de casais do mes­mo sexo da igre­ja.

Real­i­zou refor­mas no cor­po admin­is­tra­ti­vo da igre­ja (a Cúria Romana), bus­can­do a descen­tral­iza­ção e o encam­in­hamen­to da extinção de seu caráter monárquico abso­lutista, com a maior dis­tribuição de respon­s­abil­i­dades.

Sua atu­ação con­tou com a resistên­cia de con­ser­vadores e, na igre­ja, com forte oposição tam­bém con­ser­vado­ra.

Suas real­iza­ções, con­tu­do, atu­alizaram a igre­ja e sua imagem, a um mun­do em con­stante trans­for­mação, que exige o enfrenta­men­to de questões exis­ten­ci­ais, reli­giosas, soci­ais, econômi­cas e políti­cas novas, mais pro­fun­das, assim como posi­ciona­men­tos mais firmes e com­pro­meti­dos com uma sociedade que se remod­ela, mas neces­si­ta da defe­sa intran­si­gente dos val­ores e da real­i­dade da democ­ra­cia, da paz, do diál­o­go, da aprox­i­mação tol­er­ante, antidis­crim­i­natória, autên­ti­ca da liber­dade, da igual­dade e da sol­i­dariedade.

“Pela tra­jetória de seu apos­to­la­do,” afir­ma o Pres­i­dente da Acad­e­mia Paulista de Dire­ito, Alfre­do Attié, “por essa cor­agem da mudança e da atu­al­iza­ção, pelo caráter sim­bóli­co autên­ti­co de seus atos e por seu lega­do, Fran­cis­co deve ser recon­heci­do como o pas­tor da Justiça.”

A Acad­e­mia Paulista de Dire­ito con­cede a Fran­cis­co o títu­lo de Acadêmi­co Eméri­to e per­manecerá em luto, por sete dias.