Alien­ação Parental ou Assé­dio Moral Infan­til?

Mar­cia Raich­er

No ano de comem­o­ração dos 70 anos da Declar­ação dos Dire­itos Humanos, muito se vê, ain­da, que o mun­do pre­cisa evoluir para uma efe­ti­va apli­cação dessa declar­ação que pre­vê igual­dade, respeito e garan­tias a todos os indi­ví­du­os.

Infe­liz­mente, ain­da não con­seguimos o grande obje­ti­vo dessa declar­ação, pois são tan­tas as atro­ci­dades que vemos diari­a­mente que só com­pro­vam a cru­el­dade humana.

Uma das questões que merece uma reflexão dos nos­sos jul­gadores é a preser­vação dos dire­itos das pes­soas den­tro do próprio lar, onde dev­e­ria ser o lugar mais sagra­do e seguro para todos os que com­põem a família, mas infe­liz­mente não é isso que vemos.

Uma das coisas que muito me chama a atenção é a lin­ha tênue que sep­a­ra a “pop star” alien­ação parental, do quase “des­perce­bido” assé­dio moral infan­til.

Veja-se que qual­quer manobra para a defe­sa de um menor no sen­ti­do de pro­tegê- lo do assé­dio moral, facil­mente é enten­di­da como alien­ação parental e tan­to é ver­dade que casos como o do meni­no Bernar­do, dos irmãos esquar­te­ja­dos, entre out­ros só com­pro­va que aque­le que acusa­va ao out­ro de alien­ante, nada mais era do que o próprio algoz de seus fil­hos, em fran­ca demon­stração de fal­ta inequívo­ca de amor por aque­le indi­ví­duo, mas sim, o obje­to de assé­dio con­tra o ex-par­ceiro (a).

O lar dev­e­ria ser o tem­p­lo sagra­do da família, um local onde se agregam con­hec­i­men­tos, apren­diza­dos e desen­volvi­men­to int­elec­tu­al e moral, mas nem sem­pre é assim.

De uma família bem estru­tu­ra­da, onde existe con­sid­er­ação pelas difer­enças, afe­to e união, ter­e­mos adul­tos dig­nos, respon­sáveis e de boa índole.

Edu­car, é algo muito maior, requer tem­po, cal­ma, con­stân­cia e aci­ma de tudo um empen­ho para o bom resul­ta­do.

Mas tal inten­to não se con­segue só com parte dessa família, mas sim com o todo, incluin­do-se, por­tan­to, e espe­cial­mente, o empen­ho do pai , da mãe e irmãos.

Con­tu­do uma família é com­pos­ta de pes­soas diver­sas que se unem no intu­ito de for­ma um lar e quan­do da for­mação dessa família nem sem­pre temos ciên­cia dos prob­le­mas que afligem cada uma dessas pes­soas, que muitas vezes podem ser dis­sim­u­ladas e se faz­erem pas­sar por algo que na ver­dade não são, ou escon­der prob­le­mas como alcoolis­mo, por exem­p­lo, mas pior do que isso tem os psi­co­patas e per­ver­sos que sabem manip­u­lar o out­ro para con­seguirem aqui­lo que querem e como vam­piros sug­am a ener­gia do par­ceiro e até dos próprios fil­hos.

Mas, tão difí­cil de provar ess­es com­por­ta­men­tos psi­co­patas e per­ver­sos que muitas vezes a lei entende a pro­teção que se da aos fil­hos dess­es pais doentes como

alien­ação parental e se isso se con­cretiza, a justiça que dev­e­ria ser a primeira a pro­te­ger esse menor é quem aca­ba por entre­ga-lo “de ban­de­ja” ao que de pior pode­ria lhe acon­te­cer e quan­do con­stata­do o erro, muitas vezes já é tarde demais.

Assim, é de suma importân­cia que fique­mos aten­tos com o vocab­ulário que uti­lizamos para com a cri­ança, com as palavras pro­feri­das no sen­ti­do de dimin­uí-la e enver­gonhá-la, mes­mo que den­tro do espaço do lar, pois não se sabe o efeito dessas ati­tudes no menor e quan­do esse con­segue se livrar desse assé­dio moral e não que mais ter con­ta­to com quem tan­to lhe humil­hou, é vis­to como mera­mente alien­ado, sem que a própria justiça con­si­ga enx­er­gar os sen­ti­men­tos da própria cri­ança, vendo‑a tão somente como um “boneco manip­u­la­do”, mas não como dev­e­ria vê-lo, ou seja, um ser humano com seus dire­itos sub­traí­dos e até sug­a­dos de maneira dra­co­ni­ana por quem dev­e­ria lhe dar amor.

Tudo é resul­ta­do de ações, de palavras, ou seja, para cada ação tem uma reação cor­re­spon­dente, assim, deve­mos anal­is­ar toda a con­stân­cia do rela­ciona­men­to para perce­ber que o que pode­ria pare­cer uma alien­ação parental, nada mais é do que a reação do agre­di­do em quer­er se livrar de seu agres­sor!

As palavras lançadas tem grande poder sobre as cri­anças, sobre­tu­do na fase de sua for­mação, então observe as palavras que você empre­ga em seu lar são con­stru­ti­vas e moti­vado­ras; Observe seus mod­os em relação à sua família são car­in­hosas, ser­e­nas e pro­move a edu­cação.

Temos que con­stru­ir, a cada dia, um lar que seja acol­he­dor e que nos dê o car­in­ho necessário para uma for­mação digna.

O assé­dio moral, o “mob­bing” (No con­tex­to das relações humanas, cor­re­sponde a uma for­ma de assé­dio moral) e “bul­lyng” (práti­ca de atos vio­len­tos, inten­cionais e repeti­dos, con­tra uma pes­soa inde­fe­sa, que podem causar danos físi­cos e psi­cológi­cos às víti­mas) não são fenô­menos que encon­tramos somente em ter­ceiros alheios à família, mas muitas vezes no seio dela!

Essas atro­ci­dades quan­do exer­ci­das pelos pais são muito piores, pois os fil­hos esper­am destes o maior car­in­ho e apoio e quan­do são trata­dos de maneira humil­hante e ater­ror­izante trazem grandes trau­mas.

As peque­nas viti­mas dessas atro­ci­dades não seri­am, então, viti­mas de alien­ação parental, mas pos­suido­ra de uma aver­são a quem lhes asse­di­a­va, e essa é uma aver­são jus­ta , vál­i­da e pes­soal.

Quan­do a viti­ma dess­es meios destru­tivos con­segue se livrar do agres­sor, muito nat­u­ral­mente não quer mais estar ao lado dele ou dela, mas por ser muito pequeno (geral­mente cri­anças menores de 12 anos) não con­seguem se expres­sar e o agres­sor na ânsia de con­tin­uar com as agressões que lhe dão praz­er, pois são doentes, ten­ta jog­ar a cul­pa no con­junge.

Não é fenô­meno novo, mas estu­dos recentes com­pro­vam os dis­túr­bios psi­cológi­cos graves e as con­se­quên­cias deses­tru­tu­rantes e destru­ti­vas para o ser humano.

Mal­fadadas palavras que fazem uma feri­da no amor-próprio, uma ver­dadeira embosca­da con­tra a dig­nidade e a decepção lig­a­da à per­da da con­fi­ança naque­les a quem tan­to amamos.

Con­se­quên­cia desse assé­dio moral, os fil­hos pas­sam a sen­tirem-se molesta­dos, desapoia­dos, vex­a­dos e rejeita­dos por quem esper­avam amor e não despre­zo.

Assim, deve-se ter cuida­do com as afir­mações, elas têm grande influên­cia para a for­mação das cri­anças, pois os fil­hos acred­i­tam e aceitam como ver­dade tudo que lhes é dito por seus pais.

Fil­hos que são trata­dos como “idio­tas”, “bur­ros”, “por­cos”, “inúteis” e ain­da como “gor­dos que não sabem se com­por­tar à mesa”, entre out­ras colo­cações total­mente ino­por­tu­nas e em descor­do com a ver­dadeira acepção da vocábu­lo edu­cação, trazem con­se­quên­cias desas­trosas e não raras vezes irrecu­peráveis!

O assé­dio moral traz con­fusões emo­cionais e como con­se­quên­cia o menor pode alter­ar seu com­por­ta­men­to e val­ores, ferindo a dig­nidade e iden­ti­dade do menor, cau­san­do, inclu­sive, danos psíquicos, que irão inter­vir neg­a­ti­va­mente na condição de vida com­pro­m­e­tendo seu desen­volvi­men­to físi­co e men­tal.

Esse breve arti­go vem no momen­to em que se comem­o­ram os 70 anos da Declar­ação dos Dire­itos Humanos, espe­cial­mente pela min­ha vivên­cia de Medi­ado­ra Judi­cial atu­ante nos CEJUSC ́S Cen­tral da Cap­i­tal de São Paulo e da Comar­ca de Barueri, onde muitas vezes assis­to a esse tipo de rela­to onde de um lado o cau­sador de grande mal ao próprio fil­ho pref­ere não aceitar seus prob­le­mas emo­cionais e psíquicos jogan­do o temor de seus fil­hos em relação à sua pes­soa como respon­s­abil­i­dade de even­tu­al alien­ação parental prat­i­ca­da pela mãe que em todos os casos tam­bém foi viti­ma de assé­dio moral, e com a cautela de não obri­gar as viti­mas a con­sen­tir com a entre­ga dos menores agre­di­dos e viti­ma­dos, muitas vezes pre­firo não con­tabi­lizar um acor­do a meu favor que se de um lado seria um pon­to pos­i­ti­vo para a medi­ação e estatís­ti­ca daque­le órgão, por out­ro seria em detri­men­to da segu­rança dos menores, enten­den­do que o Juí­zo terá as condições necessárias das dev­i­das apu­rações, com exam­es psi­cológi­cos e psiquiátri­cos dos envolvi­dos para que se evitem maiores tragé­dias do que as já anun­ci­adas diari­a­mente nas redes de comu­ni­cação.

Não ter um olhar para esse viés da situ­ação vai em total des­en­con­tro com o que dev­e­ria ser uma garan­tia ao ser humano e a própria dig­nidade humana.

CEO da Câmara de Medi­ação e Arbi­tragem Lati­no Amer­i­cana, Medi­ado­ra Judi­cial do Tri­bunal de Justiça de São Paulo