Em entre­vista a Marce­lo Fer­reira, do Brasil de Fato, Jorge Bran­co e Mar­i­lene Maia, expli­cam o sig­nifi­ca­do da democ­ra­cia e encar­e­cem os motivos pelos quais é impor­tante que a esquer­da e a classe tra­bal­hado­ra lutem em sua defe­sa e por sua imple­men­tação deci­si­va no Brasil.

 

Jorge Branco é sociól­o­go, mestre e doutoran­do em ciên­cia políti­ca, dire­tor exec­u­ti­vo da Revista Democ­ra­cia e Dire­itos Fun­da­men­tais, e mem­bro do Con­sel­ho de For­mu­lação Pro­gramáti­ca — ao lado de fig­uras rel­e­vantes do mun­do jurídi­co e políti­co inter­na­cional, como Bal­tazar Garzón, Boaven­tu­ra de Sousa San­tosFer­nan­do Had­dadRober­to Ama­r­alPaulo Van­nuchiVicente Trevas, San­dra Bit­ten­court,  Juca Fer­reiraPílar Del RioAnto­nio Bay­losPaulo Abrão, entre out­ros — ,  do Insti­tu­to Novos Par­a­dig­mas, dirigi­do por Tar­so Gen­ro e impor­tante par­ceiro da Acad­e­mia Paulista de Dire­ito e da Cadeira San Tia­go Dan­tas.

 

Mar­i­lene Maia  é assis­tente social e pro­fes­so­ra de Serviço Social na Unisi­nos, inte­gra a Rede Solidária São Léo, que surgiu no iní­cio da pan­demia, em esforço de prestar apoio a ocu­pações do municí­pio de São Leopol­do, no Rio Grande do Sul.

 

 

 

 

Leia a entre­vista a seguir.

 

Brasil de Fato RS — Na visão de Flo­restan Fer­nan­des, a democ­ra­cia brasileira não era com­ple­ta, pois não chega­va à per­ife­ria, às camadas mais pobres da pop­u­lação. A democ­ra­cia efe­ti­va seria aque­la que lev­asse a todos o dire­ito à ali­men­tação, à mora­dia e à edu­cação. Para que serve a democ­ra­cia?

Mar­i­lene Maia — Vale retomar­mos esta palavra. Do grego demokra­tia — demos, sig­nifi­ca povo; kratos sig­nifi­ca poder. Em que pesem todas as vari­antes, lim­ites e pos­si­bil­i­dades do poder do povo na Gré­cia anti­ga, de onde temos sua origem, democ­ra­cia é um ter­mo e um tema que colo­ca em cheque a questão do poder exer­ci­do por mais de uma pes­soa. A democ­ra­cia nos inter­pela ao recon­hec­i­men­to e val­oriza­ção das relações entre as pes­soas e destas com a natureza, assim como entre as pes­soas e as insti­tu­ições. A democ­ra­cia nos con­vo­ca à con­vivên­cia, a par­tir de alguns pres­su­pos­tos: liber­dade, igual­dade e poder decisório. Diante dis­so, a democ­ra­cia se apre­sen­ta como um sis­tema de relações e de con­vivên­cias que exige transparên­cia e decisão. Tra­ta-se, por isso, de uma exper­iên­cia políti­ca que está em exper­iên­cia em difer­entes can­tos do mun­do com difer­entes for­matos. São muitas as adje­ti­vações de democ­ra­cia, entre­tan­to, na políti­ca brasileira gan­ham evidên­cia a democ­ra­cia rep­re­sen­ta­ti­va e a democ­ra­cia par­tic­i­pa­ti­va. O proces­so eleitoral reúne um pouco dis­so, já que todos os cidadãos são con­vo­ca­dos a par­tic­i­par do proces­so votan­do, porém votan­do em alguns rep­re­sen­tantes da pop­u­lação para os poderes Exec­u­ti­vo e Leg­isla­ti­vo. Neste cenário, muitos são os ques­tion­a­men­tos sobre os lim­ites do sis­tema democráti­co brasileiro. É a ideia de igual­dade que for­ma o sis­tema democráti­co

Jorge Bran­co – É um tema muito rel­e­vante na ciên­cia políti­ca. Faze­mos uma con­fusão, que tem base históri­ca, mas tam­bém ide­ológ­i­ca, entre o sen­ti­do ger­al e sub­stan­ti­vo da democ­ra­cia e os sis­temas democráti­cos real­mente exis­tentes. Os sis­temas democráti­cos são con­struções políti­cas, pro­du­to da cor­re­lação de forças entre class­es soci­ais, por­tan­to resul­ta­do históri­co, que sig­nifi­ca um regime hierárquico e que esta­b­elece a hege­mo­nia de uns setores sobre os out­ros. Em relação aos sis­temas e regimes democráti­cos, não podemos falar em liber­dades sub­stan­ti­vas nec­es­sari­a­mente. Eles têm origem no pen­sa­men­to lib­er­al e nas rev­oluções bur­gue­sas antiaris­tocráti­cas para diz­er que for­mal­mente os seres humanos eram iguais entre si. E num con­fron­to com a ideia aris­tocráti­ca da difer­ença div­ina entre o rei e os súdi­tos, entre o sen­hor feu­dal e os cam­pone­ses. Por­tan­to, a ideia de igual­dade é que for­ma o sis­tema democráti­co. Então, cidadãos iguais e livres podem decidir os des­ti­nos da comu­nidade. Mas isso sem­pre esteve asso­ci­a­do, prin­ci­pal­mente com esta origem históri­ca, à detenção da pro­priedade. No sis­tema feu­dal e nas monar­quias abso­lutis­tas, a pro­priedade era aris­tocráti­ca. Por­tan­to, o sis­tema democráti­co per­mi­tiu à nova classe emer­gente que se tornou hegemôni­ca, a ter pro­priedade sobre a ter­ra, sobre a indús­tria, sobre o comér­cio. Se os home­ns são livres eles tam­bém são pagos pelo seu tra­bal­ho. E, a par­tir daí, ger­ou-se o sobre­tra­bal­ho. A ideia de Flo­restam Fer­nan­des se rela­ciona ao sen­ti­do sub­stan­ti­vo e não ao sis­tema. À ideia de que a igual­dade não pode ser deter­mi­na­da ape­nas pela for­mal­i­dade da lei para, depois, a dinâmi­ca da econo­mia esta­b­ele­cer a desigual­dade através da pro­priedade e da riqueza. Então mod­er­na­mente, a par­tir do sécu­lo 20, a esquer­da e as class­es tra­bal­hado­ras se apro­pri­aram da ideia e do ter­mo da democ­ra­cia para falar de sociedade igual, con­quis­tas soci­ais, aprox­i­mação entre mais pobres e mais ricos. Ou até mes­mo elim­i­nação dos mais ricos, de uma classe mais rica. A própria Rev­olução Rus­sa fala em democ­ra­cia da maio­r­ia. Esta é a dis­tinção mais essen­cial que a gente pode faz­er. O nos­so exer­cí­cio da políti­ca acon­tece a todo o momen­to.

BdF RS — Mui­ta gente não quer nem ouvir falar em “democ­ra­cia” ou “políti­ca”. Mas o que vai acon­te­cer se ela mostrar despre­zo pela políti­ca e pela democ­ra­cia?

Mar­i­lene Maia - É impor­tante nos dar­mos con­ta que todos/as/es, mes­mo aqueles/as que não querem falar em políti­ca, esta­b­ele­cem relações e, por con­se­quên­cia, estão fazen­do políti­ca. Gos­to de diz­er que estas relações, que são soci­ais, cul­tur­ais, econômi­cas e, tam­bém, políti­cas podem estar afir­man­do ou negan­do a democ­ra­cia. De for­ma sim­pli­fi­ca­da, podemos diz­er que nos­sas relações e/ou con­vivên­cias podem ser mais hor­i­zon­tal­izadas e, por isso, democráti­cas, ou ver­ti­cal­izadas e, assim, autoritárias. Podemos com isso diz­er que a nos­sa condição humana e de con­vivên­cia exige pro­tag­o­nis­mo que é tam­bém políti­co. Às vezes, nos equiv­o­camos pen­san­do que a políti­ca acon­tece ape­nas por meio da políti­ca insti­tu­cional, dos par­tidos, dos poderes Exec­u­ti­vo, Leg­isla­ti­vo e Judi­ciário, assim como dos proces­sos eleitorais. Por aí pas­sam algu­mas dimen­sões da políti­ca, que é menor e tam­bém maior. Insis­to, o nos­so exer­cí­cio da políti­ca acon­tece a todo o momen­to, em meio às múlti­plas relações com out­ras pes­soas, com a natureza, com o Esta­do e a sociedade e suas difer­entes orga­ni­za­ções. Negar tudo isso é negar a vida e a nos­sa condição humana, de cidada­nia e de “ter­ra­nos”, ou seja, seres com par­tic­i­pação na atenção, cuida­do e direção do plan­e­ta Ter­ra. E, neste sen­ti­do, pen­so que esta­mos crescen­do no entendi­men­to e na par­tic­i­pação da cos­mopolíti­ca, que é con­struí­da entre os humanos e todos os seres da natureza. O despre­zo pela democ­ra­cia e a políti­ca tem origem no pen­sa­men­to con­ser­vador.

Jorge Bran­co - Podemos perce­ber com essa ascen­são da extrema dire­i­ta, que ela é cal­ca­da num proces­so políti­co de rejeição à democ­ra­cia e rejeição à políti­ca. É um ato de dis­pu­ta de val­ores e de dis­pu­ta ide­ológ­i­ca. O vocab­ulário é um ele­men­to da dis­pu­ta ide­ológ­i­ca, da dis­pu­ta comu­ni­ca­cional, da esfera públi­ca. O despre­zo pela políti­ca e pela democ­ra­cia, no entan­to, não é rela­ciona­do somente à con­jun­tu­ra atu­al. Aparece essa rejeição em pesquisas sobre com­por­ta­men­to políti­co há décadas. Tem sua base de expli­cação na hege­mo­nia do pen­sa­men­to con­ser­vador que for­mou a sociedade brasileira cap­i­tal­ista e repub­li­cana nos sécu­los 19 e 20. Ou seja, políti­ca é algo que era, primeiro, feito pelos sen­hores pro­pri­etários que sabi­am o que era mel­hor para nós. E nos diziam o que faz­er. Depois, para escon­der as ver­dadeiras relações dos negó­cios, a políti­ca começou a ser trata­da na esfera da comu­ni­cação em espe­cial como algo sujo: “Ah, esse cidadão faz mui­ta políti­ca”, quan­do se quer diz­er que a pes­soa mente para os out­ros. Tam­bém a rejeição à democ­ra­cia está rela­ciona­da com o ascen­so que a esquer­da teve na pau­ta democráti­ca durante o sécu­lo 20. A par­tir da Segun­da Guer­ra Mundi­al, a democ­ra­cia pas­sa a ser uma ban­deira dos movi­men­tos dos tra­bal­hadores. Por dire­itos, de voto para mul­heres, de salário igual tam­bém, de redução da jor­na­da de tra­bal­ho, de 13º salário, de férias remu­ner­adas, mais sis­tema públi­co de saúde e de edu­cação. Tudo foram con­quis­tas, prin­ci­pal­mente, do sécu­lo 20 depois da Segun­da Guer­ra e no con­tex­to de Guer­ra Fria. Para faz­er os tra­bal­hadores não se encantarem pela per­spec­ti­va social­ista que a União Soviéti­ca rep­re­sen­ta­va naque­le perío­do. Então, a rejeição à políti­ca e à democ­ra­cia é tam­bém luta políti­ca. Para tirar os tra­bal­hadores do cen­tro da políti­ca e per­mi­tir que, em nome do bom gov­er­no, se man­ten­ham as regras de respon­s­abil­i­dade fis­cal, sone­gação, isenções fis­cais, superávit primário para pagar a dívi­da. Ao invés de inve­stir em saúde ou diminuir a jor­na­da de tra­bal­ho, aumen­tar a mas­sa de salários. Por­tan­to, é pura políti­ca, pura ide­olo­gia e pura dom­i­nação. É pre­ciso de políti­ca para aliar a classe operária típi­ca aos tra­bal­hadores de aplica­tivos.

BdF RS — Existe uma frase que diz que “Se você não gos­ta de políti­ca você vai ser man­da­do por alguém que gos­ta”. Con­cor­da? 

Mar­i­lene Maia — A palavra “políti­ca” tem tam­bém sua origem na Gré­cia e des­ig­na­va as relações entre os cidadãos que vivi­am na pólis, ou seja, na cidade. Assim, a políti­ca acon­tece onde exis­tem con­vivên­cias. E mais, hoje a políti­ca é a medi­ação que orga­ni­za as vidas e as con­vivên­cias dos humanos, suas insti­tu­ições e de todos os seres da natureza. Negar esta condição e par­tic­i­pação pode implicar na negação da sua exper­iên­cia e, por con­se­quên­cia, pro­mover a exclusão de sua existên­cia, dos aces­sos e garan­tias de vida. Diante dis­so, somos desafi­a­dos a ser “parte” na direção que quer­e­mos dar a nos­sa vida e às out­ras “partes” que conosco con­vivem. Para isso, não há out­ro jeito se não pela políti­ca.

Jorge Bran­co — As relações da políti­ca são essen­ci­ais para que se pos­sa, do pon­to de vista das class­es tra­bal­hado­ras, con­stru­ir um novo blo­co para sub­sti­tuir o blo­co de poder que tem a hege­mo­nia do cap­i­tal finan­ceiro. É pre­ciso de políti­ca para aliar os operários met­alúr­gi­cos aos operários do sap­a­to. Ou a classe operária típi­ca com a nova classe de tra­bal­hadores pre­cariza­dos, de tra­bal­hos de aplica­ti­vo. Da mes­ma for­ma, é pre­ciso políti­ca para unir tra­bal­hadores urbanos aos rurais. Isso é relação políti­ca. Num sis­tema democráti­co, em espe­cial quan­do a hege­mo­nia ain­da é con­ser­vado­ra, ain­da é do cap­i­tal finan­ceiro, como a que a gente vive, a políti­ca é essen­cial para que se pos­sa esta­b­ele­cer con­quis­tas de dire­itos no Par­la­men­to e no gov­er­no. Então, quan­do a classe tra­bal­hado­ra e a maio­r­ia da pop­u­lação refu­ta políti­ca, demo­niza políti­ca e democ­ra­cia, está per­mitin­do que os espe­cial­is­tas políti­cos, os int­elec­tu­ais orgâni­cos das class­es dom­i­nantes, fiquem soz­in­hos no cenário e ten­ham grande van­tagem para man­ter a dis­pu­ta ide­ológ­i­ca, mas tam­bém con­quis­tas muito práti­cas como aprovar o teto de gas­tos (públi­cos). Hoje, ape­sar dos avanços, a democ­ra­cia gan­ha novas ameaças.

BdF RS — A filó­so­fa Mar­ile­na Chauí obser­va que a democ­ra­cia está sem­pre em dis­pu­ta, está sem­pre em movi­men­to, não é uma coisa para­da no tem­po. O que acha?  

Mar­i­lene Maia – Sim, a democ­ra­cia é um dos jeitos de se faz­er políti­ca e este jeito está em dis­pu­ta o tem­po todo com out­ros jeitos e agentes. Exis­tem difer­entes jeitos e agentes políti­cos. Propósi­tos. val­ores e medi­ações dis­tin­tas se colo­cam em dis­pu­ta. Hoje, ape­sar dos avanços alcança­dos des­de os anos 1980, que implicaram na afir­mação da democ­ra­cia como sis­tema de gov­er­no do Esta­do brasileiro, a democ­ra­cia gan­ha novas ameaças. As difer­entes for­mas de faz­er políti­ca e as dis­putas eleitorais dos últi­mos anos têm demon­stra­do isso. Somos desafi­a­dos à retoma­da da história, análise dos avanços e recu­os na democ­ra­cia, seus agentes e per­spec­ti­vas con­tem­porâneas. Par­tic­i­par destes proces­sos de análise se con­sti­tui como critério para os necessários avanços para a democ­ra­ti­za­ção da democ­ra­cia como relem­bra per­ma­nen­te­mente (o sociól­o­go) Boaven­tu­ra de Sousa San­tos. E democ­ra­cia exige mate­ri­al­i­dade e não só retóri­ca. Quan­do vier­am as férias remu­ner­adas, hou­ve gente dizen­do que iam acabar com a econo­mia.

Jorge Bran­co -Mar­ile­na Chauí traz uma com­preen­são per­fei­ta. Ao diz­er isso, está com­preen­den­do e está fundin­do duas dimen­sões do ter­mo democ­ra­cia, o sis­tema e o sub­stan­ti­vo. Em um regime ou sis­tema políti­co é pos­sív­el faz­er políti­ca, con­stru­ir alianças para obter dire­itos. Mas ess­es dire­itos con­tradizem dire­itos dos poderosos, quan­do a gente, por exem­p­lo, aumen­ta a licença-mater­nidade de seis meses para dois anos, e tam­bém a con­cede ao pai, trans­for­man­do a licença em licença da cri­ança, como fez recen­te­mente a Islân­dia e seu sis­tema democráti­co. Pai e mãe ou duas mães ou dois pais ficam em casa com a cri­ança por dois anos. Este dire­ito gera descon­tenta­men­to em quem perde din­heiro ou perde lucro com o aumen­to do cus­to dos dire­itos dos tra­bal­hadores. As férias, em alguns país­es, como os Esta­dos Unidos, não são remu­ner­adas. Já foram de 15 dias. Quan­do se con­quis­tou 30 dias de férias remu­ner­adas, hou­ve gente que dizia, na época, que isso ia acabar com a econo­mia brasileira, que não ia supor­tar um dire­ito como esse. Então, é um proces­so de dis­pu­ta. O ambi­ente democráti­co per­mite alianças, even­tual­mente até con­quis­tar gov­er­nos pop­u­lares. Mas ele é um vai-e-vem, um pro­gres­so e um regres­so, um pas­so adi­ante, um pas­so atrás. Os tra­bal­hadores não podem apos­tar em saí­das con­ser­vado­ras como acon­te­ceu em 2018.

BdF RS — Em que a democ­ra­cia pre­cisa avançar no Brasil e qual o papel do cidadão e do eleitor nis­so?

Mar­i­lene Maia - É urgente e necessário o avanço da democ­ra­cia com par­tic­i­pação efe­ti­va de todos os seg­men­tos pop­u­la­cionais, dos difer­entes ter­ritórios. E, em espe­cial, daque­les que his­tori­ca­mente têm sido excluí­dos dos proces­sos de afir­mação da vida em suas múlti­plas dimen­sões: ambi­en­tais, cul­tur­ais, econômi­cas, políti­cas, reli­giosas, soci­ais… Enten­do que a democ­ra­cia hoje nos con­vo­ca à con­strução de novas con­vivên­cias ou, como diz (o antropól­o­go) Edgar Morin, a novas con­vivi­al­i­dades. As dis­putas para o avanço da democ­ra­cia vão muito além da esquer­da e dire­i­ta. Alguns val­ores neces­si­tam ser os bal­izadores de sua análise e recon­strução. Um deles, que me parece urgente, está na justiça socioam­bi­en­tal. Novas exigên­cias estão postas para isso: nova políti­ca, nova econo­mia, nova cul­tura. Ros­tos e cor­pos invis­i­bi­liza­dos e vozes devem com­por a grande sin­fo­nia da democ­ra­cia, que neces­si­ta acon­te­cer no Brasil, na Améri­ca Lati­na e no mun­do. Repar­tir as exper­iên­cias neste sen­ti­do, colo­can­do-nos em um com­pro­mis­so inadiáv­el com a humanidade e o plan­e­ta, pode ser um impor­tante obje­ti­vo para o nos­so pro­tag­o­nis­mo políti­co para este tem­po. Ros­tos e cor­pos invis­i­bi­liza­dos e vozes devem com­por a grande sin­fo­nia da democ­ra­cia, que neces­si­ta acon­te­cer no Brasil, na Améri­ca Lati­na e no mun­do.

Jorge Bran­co -Pre­cisa avançar para deixar de ser um mero arran­jo legal de dire­ito como um sis­tema que per­mite a igual­dade for­mal e o voto, para ser uma econo­mia e um regime políti­co que garan­tam a ideia de igual­dade. Pre­cisamos de mais dire­itos soci­ais no Brasil, menor jor­na­da de tra­bal­ho, aumen­to real dos salários, dis­tribuição de ter­ra, ampli­ação da rede de edu­cação públi­ca, inves­ti­men­to em saúde públi­ca e infraestru­tu­ra, edu­cação e pesquisa, ciên­cia e ino­vação. Essas con­quis­tas ger­am dinamis­mo econômi­co e jun­to com os dire­itos garan­ti­dos pelo Esta­do brasileiro, pela democ­ra­cia brasileira, garan­tem equidade social. Os tra­bal­hadores pre­cisam apos­tar, por­tan­to, em políti­cas dis­trib­u­tivis­tas, democráti­cas, de inves­ti­men­to públi­co e não mais em saí­das con­ser­vadores como ocor­reu no últi­mo pleito.