Retoman­do o tema da leitu­ra, da escrit­u­ra e dos livros, Breves Arti­gos (veja, aqui) da Acad­e­mia Paulista de Dire­ito traz o tex­to do Advo­ga­do e Téc­ni­co em Tele­co­mu­ni­cações, autor de Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded (Brasil: Clu­bin­ho E Book, 2013).

Arnobio fala da leitu­ra dos clás­si­cos e do tem­po cer­to de os reen­con­trar, por meio dos que tam­bém se aprox­i­maram deles, fazen­do-se guias de sua leitu­ra, e das coisas boas da lit­er­atu­ra.

Leia o tex­to, a seguir, como pub­li­ca­do, orig­i­nal­mente, em seu site.

 

Voltan­do ao Mun­do dos Livros
Arnobio Rocha

En la noche, sigo encen­di­en­do sueños
Para limpiar con el humo sagra­do cada recuer­do
(Has­ta la Raiz – Natalia Lafour­cade)

“É cer­to que tive aces­so muito cedo, jovem, aos clás­si­cos da lit­er­atu­ra mundi­al, de políti­ca, econo­mia e filosofia.

Repen­san­do hoje, não sei se tin­ha maturi­dade para ter encar­a­do algu­mas leituras, foi muito mais pelo desafio int­elec­tu­al (vaidade? Talvez), impul­so juve­nil e praz­er em ler, do que real­mente uma preparação mais sis­temáti­ca, se é que existe, ape­nas fui lendo e lendo.

A com­preen­são de muitos dess­es clás­si­cos, só vem depois, quan­do o cére­bro fez as várias conexões necessárias para o que fora lido. Por sorte, a min­ha memória (afe­ti­va ou cog­ni­ti­va) me aju­da a ter em mente boa parte dess­es livros espetac­u­lares, pois na época, não havia “google”, então, o fichamen­to de livros sem­pre foi meu guia e fonte de con­sul­ta, uma parte dess­es apon­ta­men­tos viraram posts desse blog.

A intim­i­dade com Shake­speare, por exem­p­lo,  tornou-se mais inten­sa com as leituras de Harold Bloom, e e com suas anális­es, obra a obra, foram fun­da­men­tais para que lesse toda a obra do bar­do inglês, e depois relesse, por muitos anos, algu­mas delas, pois tin­ha que con­frontar as min­has per­spec­ti­vas com do grande pro­fes­sor de Yale.

A mitolo­gia, a teogo­nia, a cos­mogo­nia e a escat­olo­gia do mun­do grego e romano, com mais rele­vo no primeiro, tive como guia Juni­to de Sousa Brandão, antes de o con­hecer numa palestra em São Paulo, tin­ha lido Home­ro, Vir­gilio, Sófo­cles, Eurí­pedes, Ésqui­lo, Oví­dio, entre­tan­to, ao ouvir aque­le pro­fes­sor falar por duas e meia, fiquei abso­lu­ta­mente enfeitiça­do. Li sua extra­ordinária obra, seus estu­dos e traduções, uma grande lumi­nosi­dade para mim sobre o mun­do gre­co-romano.

Marx e o Cap­i­tal, foram decod­i­fi­ca­dos para mim pelo meu mestre, José Antônio Mar­tins, com suas anális­es de con­jun­tu­ra que ele dava em suas palestras no anti­go Núcleo de Edu­cação Pop­u­lar – 13 de maio, depois no bole­tim “Críti­ca da Econo­mia“. Li e fichei, durante os meses ini­ci­ais de 1993, para min­ha ale­gria, Mar­tins e eu, mon­ta­mos um grupo de estu­dos do Cap­i­tal, em que, ao fim e ao cabo, sobramos nós dois, quan­tas lições, naque­las sex­ta-feiras do ano de 1995.

Meu tra­bal­ho de con­clusão do cur­so de Dire­ito e meu livro sobre a Crise de 2008, têm muito do que Mar­tins me ensi­nou, de como enten­der a estru­tu­ra do Cap­i­tal, a lóg­i­ca inter­na, as for­mas de leitu­ra e, prin­ci­pal­mente, como traz­er as lições para o momen­to pre­sente, seus reflex­os na Econo­mia, Políti­ca, Filosofia e no Dire­ito, a luta de class­es como fio con­du­tor de todos os ramos do saber e da história.

A intim­i­dade com os clás­si­cos não é para exer­cí­cio de vaidade pes­soal, mas é for­ma de enten­der o mun­do que nos cer­ca, não nos lim­i­tan­do ao que faze­mos profis­sion­al­mente. A lóg­i­ca, filosofia e méto­do, foram essen­ci­ais para min­ha lon­ga car­reira no mun­do das tele­co­mu­ni­cações, para soluções de prob­le­mas com­plex­os de soft­ware, da visão ampla de um sis­tema, não impor­tan­do a lin­guagem dos códi­gos ali escritos.

Óbvio que para o Dire­ito, a leitu­ra, o con­hec­i­men­to, são as fer­ra­men­tas para ter sen­ti­do ao se descr­ev­er uma real­i­dade fáti­ca con­ta­da por um cliente, e, claro, para ten­tar enten­der o cipoal gigante de nor­mas e códi­gos dos sis­tema jurídi­co.

Entre­tan­to, a lit­er­atu­ra, é pri­mor­dial­mente praz­er, tesão, muito além do aspec­to instru­men­tal, ou que se use como fer­ra­men­ta nos mais vari­a­dos cam­pos do con­hec­i­men­to, ler é son­har, é via­jar e con­hecer os aspec­tos mais ínti­mos da humanidade. Escr­ev­er é o seu par, nem sem­pre se une os dois, pois é muito mais fácil ler do que escr­ev­er.