Novo Edi­to­r­i­al do mais impor­tante per­iódi­co da grande impren­sa paulista e brasileira, o Jor­nal O Esta­do de S. Paulo acer­ta uma vez mais, ao explic­i­tar a neces­si­dade de expur­gar o bol­sonar­is­mo do espaço da políti­ca brasileiro.

Para Alfre­do Attié, Pres­i­dente da Acad­e­mia Paulista de Dire­ito e Tit­u­lar da Cadeira San Tia­go Dan­tas, que man­i­festou pub­li­ca­mente apoio não somente a mais esse tex­to da boa impren­sa brasileira — “Apren­dizes de Bol­sonaro”, de 13/07/2025 —, mas, igual­mente, a edi­to­r­i­al ante­ri­or — “Coisa de Mafiosos”, de 09/07/2025 —, ess­es tex­tos “retomam o cam­in­ho sem­pre tril­ha­do pelo mais impor­tante órgão de impren­sa brasileiro e paulista, de apoio irrestri­to à con­strução democráti­ca e críti­ca cora­josa a qual­quer ten­ta­ti­va de usurpação tirâni­ca do poder.”  É fun­da­men­tal — prossegue Attié — “faz­er reti­rar, defin­i­ti­va­mente, do espaço da políti­ca e do tem­po da cidada­nia, a ameaça que rep­re­sen­ta o extrem­is­mo, que medioc­riza o debate, polui o ambi­ente de notí­cias fal­sas e palavras de ordem hipócritas, de todo pon­to de vista, que encam­in­ham ao atra­so cul­tur­al e à deses­tru­tu­ração proposi­tal de todas as insti­tu­ições e de todos os val­ores orga­ni­za­dos sob a fór­mu­la con­sti­tu­cional do Esta­do Democráti­co de Dire­ito.

Attié tam­bém elo­gia o arti­go do jor­nal­ista e filó­so­fo da políti­ca Rolf Kuntz, que foi seu pro­fes­sor, no doutora­do, na Fac­ul­dade de Filosofia, Letras e Ciên­cias Humanas da Uni­ver­si­dade de São PauloFFLCH.USP, “O Brasil diante da ambição impe­r­i­al de Trump”, de 13/07/2025. Afir­ma o jurista e Pres­i­dente da APD que “o bol­sonar­is­mo encar­na essa bar­bárie comu­ni­ca­cional, ten­do toma­do boa parte das mentes pseu­do-políti­cas brasileiras, levan­do-as a negar democ­ra­cia e sobera­nia, pilares da Con­sti­tu­ição Cidadã.”

Para Attié, ess­es arti­gos indicam um pro­je­to impor­tante de recon­sti­tu­ição políti­ca, con­fig­u­ran­do uma impor­tante bus­ca de “restau­ração e instau­ração de um espaço e de um tem­po ver­dadeira­mente públi­cos, volta­dos a con­stru­ir, pelo embate de esquer­da e dire­i­ta efe­ti­va­mente políti­cas e democráti­cas, um pro­je­to de Brasil volta­do ao desen­volvi­men­to sus­ten­táv­el e à val­oriza­ção da dig­nidade humana, em espaço de tra­bal­ho e livre ini­cia­ti­va colab­o­ra­ti­vo e cri­ador, pelo que mere­cem o inte­gral apoio das insti­tu­ições e da sociedade civ­il brasileiras.

Leia o edi­to­r­i­al “Apren­dizes de Bol­sonaro” a seguir, e acesse o edi­to­r­i­al ante­ri­or por meio deste link, e o arti­go do pro­fes­sor Kuntz, cli­can­do aqui.

Aprendizes de Bolsonaro

Fiéis à desonestidade intelectual do padrinho, governadores bolsonaristas que aspiram à Presidência culpam Lula pela ameaça de tarifaço de Trump. A direita pode ser muito melhor que isso.

A dire­i­ta brasileira que se pre­tende mod­er­na e democráti­ca, se quis­er con­stru­ir um legí­ti­mo pro­je­to de oposição ao gov­er­no Lula da Sil­va, pre­cisa romper defin­i­ti­va­mente com Jair Bol­sonaro e tudo o que esse sen­hor rep­re­sen­ta de atra­so para o Brasil. Não se tra­ta aqui de um imper­a­ti­vo pura­mente ide­ológi­co, e sim de uma exigên­cia mín­i­ma de civil­i­dade, decên­cia e com­pro­mis­so com os inter­ess­es nacionais.

O recente ataque do pres­i­dente amer­i­cano, Don­ald Trump, às insti­tu­ições brasileiras, suposta­mente em defe­sa de Bol­sonaro, é só uma gota no oceano de males que o bol­sonar­is­mo causa e ain­da pode causar aos brasileiros. A vida públi­ca de Bol­sonaro pro­va que o ex-pres­i­dente é um inimi­go do Brasil que sem­pre colo­cou seus inter­ess­es par­tic­u­lares aci­ma dos do País. A essa altura, por­tan­to, já dev­e­ria estar claro para os que pre­ten­dem her­dar os votos antipetis­tas que se asso­ciar a Bol­sonaro, não impor­ta se por crença ou prag­ma­tismo eleitoral, sig­nifi­ca trair os ideais da Repúbli­ca e arriscar o pro­gres­so da Nação.

Por razões óbvias, Bol­sonaro não virá a públi­co con­denar o teor da famiger­a­da car­ta de Trump a Lula. Isso mostra, como se ain­da hou­vesse dúvi­das, até onde Bol­sonaro é capaz de ir – causar danos econômi­cos não triv­i­ais ao País – na vã ten­ta­ti­va de sal­var a própria pele, imag­i­nan­do que os arregan­hos de Trump ten­ham o condão, ora vejam, de sub­ju­gar o Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al e, assim, alter­ar os rumos de seu des­ti­no penal.

Nesse sen­ti­do, é ultra­jante a com­placên­cia de gov­er­nadores como Tar­cí­sio de Fre­itas (SP), Romeu Zema (MG) e Ronal­do Caia­do (GO) diante dos ataques pro­movi­dos pelo pres­i­dente dos EUA ao Brasil. As reações públi­cas dos três servi­ram para expor a mis­éria moral e int­elec­tu­al de uma parcela da dire­i­ta que se diz mod­er­na, mas que con­tin­ua a grav­i­tar em torno de um ideário retró­gra­do, per­son­al­ista, fran­ca­mente anti­na­cional e fali­do como é o bol­sonar­is­mo.

Tar­cí­sio, Zema e Caia­do, todos aspi­rantes ao car­go de pres­i­dente da Repúbli­ca, usaram suas redes soci­ais para ten­tar impin­gir a Lula, cada um a seu modo, a respon­s­abil­i­dade pelo “tar­i­faço” de Trump con­tra as expor­tações brasileiras. Nen­hum deles se con­strangeu por ter­giver­sar em nome de uma “estraté­gia eleitoral”, vamos chamar assim, que nem de longe parece lhes ser bené­fi­ca – haja vista a razia que a asso­ci­ação ao trump­is­mo provo­cou em can­di­dat­uras mun­do afo­ra.

Tar­cí­sio afir­mou que “Lula colo­cou sua ide­olo­gia aci­ma da econo­mia, e esse é o resul­ta­do”, atribuin­do ao petista a imposição de tar­i­fa de 50% sobre as expor­tações brasileiras aos EUA – muitas das quais saem jus­ta­mente do Esta­do que ele gov­er­na. Clas­si­f­i­can­do, na práti­ca, a respon­s­abil­i­dade de Bol­sonaro como uma fab­ri­cação, o gov­er­nador paulista con­cluiu que “nar­ra­ti­vas não resolverão o prob­le­ma”, como se ele mes­mo não estivesse ampli­f­i­can­do uma nar­ra­ti­va sem pé nem cabeça.

Caia­do, por sua vez, fez lon­ga per­oração, com dire­ito a citação do fale­ci­do caudil­ho venezue­lano Hugo Chávez, antes de diz­er que, “com as medi­das tomadas pelo gov­er­no amer­i­cano, Lula e sua entourage ten­tam vender a tese da invasão da sobera­nia do Brasil”. Por fim, coube a Zema encon­trar uma for­ma de inserir até a primeira-dama Rosân­gela da Sil­va no script para exoner­ar Bol­sonaro de qual­quer ônus políti­co pelo pre­juí­zo a ser cau­sa­do pelo “tar­i­faço” amer­i­cano se, de fato, a medi­da se con­cretizar.

O Brasil não merece lid­er­anças que rel­a­tivizam os próprios inter­ess­es nacionais em nome da leal­dade a um pro­je­to autoritário, retró­gra­do e per­son­al­ista. Até quan­do a dire­i­ta brasileira per­mi­tirá ser escra­va de um desqual­i­fi­ca­do como Bol­sonaro? Não é essa a dire­i­ta de um país decente. Não é pos­sív­el defend­er o Esta­do Democráti­co de Dire­ito e, ao mes­mo tem­po, lou­var e defend­er um ex-pres­i­dente que inci­tou ataques às urnas eletrôni­cas, ameaçou as insti­tu­ições repub­li­canas, sabotou políti­cas de saúde públi­ca e usou a máquina do Esta­do em bene­fí­cio próprio e de sua família ao lon­go de uma vida inteira.

O Brasil pre­cisa, sim, de uma dire­i­ta respon­sáv­el, madu­ra e com­pro­meti­da com o futuro – não de mar­i­onetes de um golpista con­tu­maz.