Flo­restan Fer­nan­des fale­ceu em 1995, aos seten­ta e cin­co anos de uma vida pau­ta­da pelo com­pro­mis­so sério com o rig­or acadêmi­co e com a defe­sa dos dire­itos da edu­cação e do tra­bal­ho.

Sociól­o­go, pro­fes­sor, pesquisador, con­sti­tu­inte.

De origem sim­ples, nasci­do na per­ife­ria da cidade de São Paulo, teve de tra­bal­har des­de cedo, para aju­dar a família. For­mou-se na anti­ga Fac­ul­dade de Filosofia, Ciên­cias e Letras da Uni­ver­si­dade de São Paulo, onde veio a seguir sua car­reira acadêmi­ca ple­na de êxi­to. Int­elec­tu­al enga­ja­do, defend­eu não ape­nas a edu­cação, mas sobre­tu­do os tra­bal­hadores. Persegui­do pela ditadu­ra civ­il-mil­i­tar de 1964, teve de se exi­lar no Canadá, ten­do sido pro­fes­sor de soci­olo­gia na Uni­ver­si­dade de Toron­to.

Esteve à frente de inúmeras batal­has pela edu­cação, no Brasil, deba­ten­do com impor­tantes teóri­cos de sua ger­ação.

No proces­so lento e grad­ual de rede­moc­ra­ti­za­ção brasileira, lutou pela con­sti­tu­inte, para a qual foi eleito dep­uta­do, fazen­do vin­gar o mote :“con­tra as ideias da força, a força das ideias.”

Entre suas obras estão Orga­ni­za­ção social dos tupinam­bá, de 1949,  A função social da guer­ra na sociedade tupinam­bá, de 1952. A etnolo­gia e a soci­olo­gia no Brasil, 1958,  Fun­da­men­tos empíri­cos da expli­cação soci­ológ­i­ca, 1959,  Mudanças soci­ais no Brasil, de 1960,  Fol­clore e mudança social na cidade de São Paulo, 1961, A inte­gração do negro na sociedade de class­es, de 1964,  Sociedade de class­es e sub­de­sen­volvi­men­to, 1968,  A inves­ti­gação etnológ­i­ca no Brasil e out­ros ensaios, 1975A rev­olução bur­gue­sa no Brasil, 1975.

Foi respon­sáv­el pela pub­li­cação, na Coleção Os Econ­o­mis­tas, da Abril Cul­tur­al, de tradução esmer­a­da de O Cap­i­tal, de Karl Marx, tra­bal­ho lev­a­do a cabo pelo tradu­tor  Flavio Kothe. Flo­restan con­sid­er­a­va essa obra marx­i­ana como a mais impor­tante para a con­sti­tu­ição do pen­sa­men­to soci­ológi­co, ao lado de As Regras do Pen­sa­men­to Soci­ológi­co, de Émile Durkheim.

Fica aqui essa primeira hom­e­nagem da Acad­e­mia Paulista de Dire­ito ao queri­do Pro­fes­sor, de cujo cam­pan­ha para a Assem­bleia Con­sti­tu­inte, o Pres­i­dente da APD, Tit­u­lar da Cadeira San Tia­go Dan­tas, Alfre­do Attié, par­ticipou apaixon­ada­mente, quan­do jovem estu­dante da FFLCH e da FD da Uni­ver­si­dade de São Paulo.

Sua cam­pan­ha foi  fei­ta medi­ante con­ver­sas com comu­nidades, em incan­sáveis e ilu­mi­na­dos encon­tros, de debate, de escu­ta, de dig­nidade.
Hoje, sua lem­brança e de seus tex­tos e aulas é impre­scindív­el. O queri­do Pro­fes­sor defend­e­ria a Esco­la, a Uni­ver­si­dade, a críti­ca con­tra aque­les que dese­jam destru­ir seu lega­do, os do par­tido sem esco­la, os pre­con­ceitu­osos e defen­sores da força con­tra as leis e con­tra o que nos­sa povo tem de mais genuíno, que é a capaci­dade de se rein­ven­tar con­stan­te­mente e cri­ar redes de sol­i­dariedade pela vida digna.
Nes­ta noite, uma bela h9menagem foi presta­da a Flo­restan Fer­nan­des, a Anto­nio Can­di­do e a sua amizade. Vale a pena assi­s­tir, neste link.
O even­to é assim descrito, no Canal da UOL: “O UOL, em parce­ria com a Casa do Saber e o Sesc, apre­sen­tam uma hom­e­nagem ao cen­tenário de Flo­restan Fer­nan­des, a leitu­ra da peça “Vicente e Anto­nio — A história de uma amizade: Flo­restan Fer­nan­des e Anto­nio Can­di­do”. O tex­to da leitu­ra dramáti­ca é basea­do em car­tas inédi­tas tro­cadas pelo sociól­o­go e o críti­co literário des­de fevereiro de 1942 até o fim da vida de Flo­restan, na déca­da de 1990. Na sequên­cia, o jor­nal­ista Fábio Pan­nun­zio media uma roda de con­ver­sa ao vivo para dis­cu­tir o lega­do de Flo­restan e a importân­cia dele no sécu­lo XXI. O críti­co literário Rober­to Schwarz e o psi­canal­ista Chris­t­ian Dunker falam sobre as relações soci­ais e o momen­to con­tur­ba­do que vive­mos. O tex­to de “Vicente e Anto­nio” é de auto­ria de Oswal­do Mendes e será lido por qua­tro atores, sob a direção de Eduar­do Tolenti­no de Araújo, pri­mo de Anto­nio Can­di­do, e dire­tor do Grupo Tapa. No elen­co, Wal­ter Bre­da (Flo­restan Fer­nan­des), José Augus­to Zac­chi (Flo­restan Fer­nan­des jovem), Oswal­do Mendes (Anto­nio Can­di­do) e Cae­tano O’Maih­lan (Anto­nio Can­di­do jovem), com a par­tic­i­pação espe­cial do can­tor e vio­lonista Zé Luiz Mazz­iot­ti.”
Mar­avil­hosa amizade, a ger­ar um tex­to e um tra­bal­ho teatral de elo­giar muito. O diál­o­go que se seguiu foi muito bom. Destacaria a últi­ma man­i­fes­tação do Pro­fes­sor Rober­to Schwarz, sua últi­ma men­sagem sobre a ambição de Flo­restan e Anto­nio, que alçavam o Brasil e seu pen­sa­men­to a um pata­mar de igual­dade ao, e de super­ação do debate inter­na­cional.
Pre­cisamos recu­per­ar essa her­ança e a esper­ança.