Nota do Centro Internacional de Direitos Humanos de São Paulo, vinculado à Cadeira San Tiago Dantas, da Academia Paulista de Direito — CIDHSP/APD, sobre o Julgamento de Crimes Sexuais praticados pelo regime ditatorial argentino.
O Poder Judiciário argentino, estabeleceu passo importante na restauração da justiça e na construção do Estado de Direito e da Democracia, dando exemplo para os demais Países Americanos, bem como para a Ordem Internacional dos Direitos Humanos.
O Tribunal Penal Federal Oral nº 5, da Cidade Autônoma de Buenos Aires, condenou agentes da ditadura argentina por crimes sexuais e outros crimes praticados contra três mulheres, vítimas que estiveram presas durante esse regime de exceção, em conhecido centro clandestino de detenção e tortura, que funcionou na Escola de Mecânica da Marinha, entre 1977 e 1978.
Foram condenados a 24 e 20 anos de prisão, respectivamente, os ex-oficiais da Marinha Jorge Eduardo Acosta, vulgo “El Tigre”, e Alberto Eduardo González, também conhecido como “Gato”, ou “González Menotti.”
Os fatos foram denunciados à Justiça em 2014. No entanto, somente em 2021 o caso chegou à fase de julgamento oral. Durante as audiências, que foram realizadas pela plataforma Zoom em razão da pandemia do coronavírus, as vítimas relataram os abusos, estupros e violência psicológica a que foram submetidas durante seu sequestro no centro clandestino de prática contumaz de violência.
Nos primeiros pontos do veredicto, após rejeitar as questões preliminares alegadas pela defesa, o Tribunal declarou que os fatos julgados constituíam crimes contra a humanidade. Em seguida, analisando as provas e as alegações de defesa, declarou culpados Jorge Eduardo Acosta e Alberto Eduardo González dos crimes de “estupro agravado por ter sido cometido por duas ou mais pessoas, reiteradamente em pelo menos 10 oportunidades”, abuso desonesto, privação ilegítima da liberdade e suplícios. Tais crimes são imprescritíveis, por seu caráter de lesa-humanidade.
O Tribunal foi composto pelos Juízes Adrian Federico Grünberg, presidente, Adriana Palliotti e Daniel Horacio Obligado.
Após o veredicto, o Tribunal fez unificar as penas a que condenou os réus com outras condenações que já haviam sofrido, em julgamentos anteriores, por prática de sequestros, torturas e assassinatos. Os dois cumprem suas sentenças na prisão.
A decisão é histórica porque nunca houve sentença e condenação por crimes sexuais cometidos no antigo centro clandestino de detenção, tortura e extermínio da Marinha., apesar de denúncias terem surgido em diversos depoimentos de sobreviventes, desde o início dos julgamentos.
A decisão abre portas para o julgamento de outros casos denunciados, que estão em fase de investigação. Os fundamentos da sentença serão publicados em 12 de outubro.
A Academia Paulista de Direito, por seu CIDHSP/APD, continua a acompanhar a evolução da justiça de direitos humanos, sobretudo no continente americano.
Luiz Eduardo Camargo Outeiro Hernandes
Coordenador Adjunto do Núcleo 4 — Justiça de Transição do CIDHSP/APD
Alfredo Attié
Acadêmico Titular da Cadeira San Tiago Dantas
Diretor do CIDHSP/APD