No artigo a seguir, em que faz a apologia da bagagem cultural deixada por seus antepassados, a advogada, médica e pesquisadora Melina Silva Pecora descreve-os como “verdadeiros desbravadores da cultura e da propagação do direito”.
Uma família de Nobres Juristas…
Melina Pecora(*)
“Sinto-me uma pessoa de pouca bagagem cultural ao passear pela história de meus ascendentes, verdadeiros desbravadores da cultura e da propagação do direito.
O Fórum Federal de Goiás leva o nome dele, meu trisavô Guimarães Natal, Ex-Procurador Geral da República, tendo sido também Ministro do Supremo Tribunal Federal. Era pai da avó de minha mãe Eurydice Natal e Silva, diga-se, a primeira mulher a integrar a Academia Goiânia de Letras, que expunha no sobrado em sarais frequentados pelos mais nobres nomes da literatura, os seus poemas.
Voltemos, entretanto, ao seu pai, o Ministro Joaquim Xavier Guimarães Natal.
Joaquim Xavier Guimarães Natal nasceu em 25 de dezembro de 1860, na capital da província de Goiás. Era filho de Luiz Pedro Xavier Guimarães e Dona Leonor Gertrudes.
Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 15 de novembro de 1882, pela Faculdade de Direito de São Paulo, sempre lutando por seus ideais republicanos, pela democracia e por um país mais justo e igualitário.
Ao regressar a sua província foi nomeado, Promotor Público e Curador de Órfãos da comarca da capital, cujas funções exerceu até 17 de janeiro de 1885, quando foi nomeado Juiz Substituto, havendo exercido esses cargos durante quatro anos, dois meses e quatro dias.
Com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, Guimarães Natal foi convidado para exercer provisoriamente o governo integrando uma Junta governativa, tomando posse em 7 de dezembro de 1889.
Joaquim Xavier Guimarães Natal participou da elaboração da Constituição republicana de 1898. Sua assinatura encontra-se nos acervos do Arquivo Nacional, que conta com preciosidades, importante legado da nossa história.
Poucas personalidades participaram tão ativamente da história de nosso país em tantas áreas tanto políticas, de lutas e conquistas, quanto das conquistas do direito, como ciência apta a trazer a justiça para os governados, através da atuação reta de seus governantes.
Mais do que galgar cargos e posições, o que ocorreu com naturalidade e equilíbrio, Joaquim Xavier galgava recrutar aquisições para toda uma sociedade e para gerações vindouras que puderam desfrutar de suas coaptações.
Em 24 de fevereiro de 1890, a Junta foi substituída por Rodolfo Gustavo da Paixão, nomeado presidente da província de Goiás. Na mesma ocasião, Guimarães Natal foi nomeado vice-presidente.
Foi relator do projeto da constituição do Estado.
Em decreto de 11 de setembro de 1905, foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, na vaga decorrente do falecimento de Antonio Joaquim Macedo Soares, tomando posse em 23 de setembro do mesmo ano.
Exerceu o cargo de Procurador-Geral da República, em decreto de 6 de dezembro de 1909, cargo de que solicitou exoneração em 14 de novembro de 1910.
Foi aposentado por decreto de 13 de abril de 1927.
Foi Presidente do Montepio de Economia dos Servidores do Estado, no triênio 1924–1927, havendo exercido o cargo de Vice-Presidente desde 1907.
Faleceu em 22 de junho de 1933, na cidade do Rio de Janeiro, sendo sepultado no Cemitério São João Batista. Em sessão do dia seguinte, o tribunal prestou-lhe homenagem, quando se manifestaram os Ministros Edmundo Lins, Presidente, propondo luto por oito dias, Plínio Casado e Bento de Faria, este em nome do Ministério Público Federal.
Não menos importante e propagador da cultura temos meu tio avô, o Professor Colemar Natal e Silva, que era advogado, jornalista, historiador, Professor, jurista. Escritor, ensaísta, pesquisador, ativista, literato, contista. .
Membro Nº40 da Associação Goiana de Imprensa, da Ordem dos Advogados do Brasil. Presidiu a Assembleia Geral da Ordem dos Advogados do Brasil que empossou a primeira diretoria da Ordem dos Advogados de Brasília., em 25 de fevereiro de 1960..
Foi o fundador do Instituto Histórico de Goiás Idealizador do Instituto dos Advogados de Goiás. Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Sessão Goiás.
Fundou a Academia Goiana de Letras e a Universidade Federal de Goiás (UFG). No final dos anos 1950, lutou incessantemente pela instalação de uma universidade federal em Goiás.
Como diretor da Faculdade de Direito de Goiânia, mobilizou intelectuais, promoveu atos públicos e assembleias e até organizou passeatas fazendo essa reinvindicação.
O decreto criando a Universidade Federal de Goiás foi assinado em dezembro de 1960 por Juscelino Kubitschek. Colemar foi seu primeiro reitor. “Ele foi um guerreiro da educação para ver esse sonho se concretizar”, disse em discurso, o atual reitor da Instituição Edward Madureira.
Com seu espírito desbravador, principalmente nos campos da educação e da política, lhe valeram a imagem de um dos homens mais centrais nos destinos goianos no século XX.
Nascido em 1907 em Niquelândia, que na época se chamava São José do Tocantins. Colemar teve uma educação esmerada, formando-se na Prestigiada Universidade do Brasil no Rio de Janeiro. Quando retornou a Goiás, sua fama o precedia e ele foi convidado pelo recém-empossado governo do interventor Pedro Ludovico Teixeira, ainda no início dos anos 1930, a das aulas no estado de História, Sociologia e Português. Sua carreira estava apenas começando e logo ele foi colocado em postos chave da administração, como na Secretaria do Interior e Justiça.
“Meu pai partilhava com Pedro Ludovico e demais membros da mudança a vocação de descortinar novos horizontes, o que sempre praticou” ressalta a professora Moema de Castro Olival, sua filha. Professora Emérita da UFG.
“Meu pai teve atuação marcante na vida do Estado, sobretudo na área cultural, tendo seu nome ligado a quase todas as instituições culturais de Goiás”, reforça a filha Moema. Ele costumava escrever sobre a história goiana em várias publicações e se empenhou pessoalmente, usando seu grande prestígio, na formação de acervo da Academia Goiânia de Letras.
Pude visitar, com um misto de nostalgia e orgulho o casarão da esquina da Rua 24 com a Rua 21, no Centro, atual sede da Academia Goiânia de Letras. Lá ele morou com a esposa Genezy de Castro a partir de 1937 e criou as filhas Moema, Mariza, Magaly e Marilda. Na frente do imóvel, um grande painel traz a figura de Colemar, um homem que jamais deixou de semear a curiosidade, a cultura, as indagações, as quebras de paradigmas, buscando sempre o avançar em todas as áreas do conhecimento.
Senti também a minha pequinês, como médica, advogada e pesquisadora, diante de tão ilustres antepassados.”
(*)médica formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, especialista em Pediatria e UTI Neonatal.