Na quinta-feira, dia 1º de fevereiro de 2024, em segunda reunião de Professores e Professoras do Brasil e da África, na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira — Unilab, foram iniciados os trabalhos de fundação e desenvolvimento da Cátedra Cheikh Anta Diop.
A Cátedra, internacional e acadêmica, passará a realizar, em cooperação intensa e transdisciplinar entre Acadêmicos, Acadêmicas, Pesquisadores e Pesquisadoras, e Estudantes provenientes de vários países e territórios, sobretudo a partir do trabalho inaugural e basilar daqueles em atividade na África e na América, o ensino, a pesquisa e atividades de extensão aos povos e às sociedades, o levantamento, da obra do importante intelectual e ativista africano Cheikh Anta Diop, permitindo, incentivando e realizando sua tradução e publicação, inicialmente em língua portuguesa, assim como os estudos da Escola Africana de Egiptologia, dos intelectuais diopianos, dos teóricos da libertação africana, das autoras e autores pan-africanistas, africanos e da diáspora africana; de modo a reunir, produzir e difundir o repertório diverso e crítico, no âmbito das humanidades, das ciências sociais teóricas e aplicadas , da filosofia e das artes, de matriz africana, assim possibilitando a introdução e mobilização de outras leituras e interpretações críticas e construtivas sobre a África, a diáspora africana, o tráfico transatlântico, o escravismo moderno, o colonialismo e o racismo, corrigindo a interpretação elaborada pelo sistema epistemológico de matriz europeia e centrado no Norte Global, de natureza exploratória, colonialista, escravista, patriarcalista e racista; que se vem mantendo hegemônico no âmbito universitário e educacional, em geral, imposto e divulgado nas colônias e antigas colônias europeias na África e na América e no sistema de ensino global.
Participaram das reuniões e do projeto e comporão a Cátedra Cheikh Anta Diop, os Professores Alexandre Timbane, Alfa Omar Diallo, Alfredo Attié, Bas’lele Malomalo, Christiane Vasconcellos, Cintia Santos Diallo, Ibrahima Sagna, Jessemusse Cacinda, Jorge Henrique Almeida de Jesus, José Castiano, José Ligna Nafafe, Kakozi Kashind, Ricardo Matheus Benedicto, Rutte Tavares Cardoso Andrade, Sérgio São Bernardo, Sylvain Mbobou e Yoporeka Somet, sob a coordenação de Rutte Andrade, Ricardo Benedicto, Christianne Vasconcellos e Alfa Diallo.
As entidades participantes do projeto são Université Cheikh Anta Diop, École Égiptologique Africaine, Ediciones Bellaterra, Casa África, Casa das Áfricas e Academia Paulista de Direito, sendo a Unilab a sede e dirigente do projeto e da Cátedra.
Diop, nascido e falecido no Senegal, estudou na França, tendo sido físico, historiador, antropólogo, pesquisador, professor e político, responsável não apenas por uma obra fundamental para o pensamento da afro-centralidade, a partir de uma perspectiva pan-africana, e na redação de uma História Geral da África, a partir de tais perspectivas inafastáveis, mas por inúmeras iniciativas educacionais, políticas, culturais e científicas para a independência e afirmação dos povos e países africanos e dos povos e países da diáspora africana.
Durante a importante reunião e evento inaugural e celebrativo, após a apresentação de todos os presentes, suas atividades e áreas de concentração de trabalho e pesquisa, Christianne Vasconcellos expôs o projeto, convidando à apresentação de sugestões, contribuições, projetos específicos e à construção do projeto e programa geral da Cátedra internacional, insistindo nos aspectos da busca de correção das perspectivas historiográficas e científicas até aqui vigentes, bem como no caráter de restauração em relação às injustiças cometidas, também até o presente.
Alfa Diallo referiu a importância do trabalho que vem sendo desenvolvido no Brasil e na África, e da relevância do intercâmbio efetivo entre estudantes, professoras e professores, para o conhecimento e a experiência das realidades, das instituições e dos espaços de história africanos. Referiu, ainda, a oportunidade e necessidade de orientação de estudantes na graduação e na pós-graduação, a partir dessas perspectivas.
Rutte Andrade falou do projeto e da participação de Universidades e instituições de ensino, pesquisa e memória do Continente Africano, lembrando o centenário de Amílcar Cabral, outro intelectual e ativista fundamental para a compreensão da África, da diáspora e da construção da independência dos países e dos povos.
Jossemusse Cacinda referiu a importância do projeto editorial da Cátedra, a partir da tradução e publicação dos textos em todos os Países de Língua Portuguesa, a partir da Cátedra.
Ricardo Benedicto falou da relação do projeto e da Cátedra com a Unilab e sua função institucional integradora, difusora e constitutiva da cultura africana e diaspórica, salientando seu trabalho na área de humanidades e de pedagogia.
Sylvain Mbobou falou de seu trabalho comparativo sobre o tráfico de escravos, em Camarões e no Brasil e da importância inaugural da Cátedra.
Jorge Henrique insistiu na necessidade de levantamento de toda a obra de Anta Diop, na maioria ainda inacessível tanto ao público quanto a pesquisadores e pesquisadoras.
Sérgio São Bernardo referiu seu trabalho na área de filosofia do direito, voltado a uma concepção afro-centrada e crítica do direito.
Alfredo Attié referiu a importância do projeto, ressaltando a relevância do direito, que se inclui de modo interdependente nessa importante realização, assim como, em geral, na perspectiva das humanidades, das ciências e das artes e dos saberes tradicionais, pensado e praticado em perspectiva crítica, ancestral, diaspórica, afro-centrada, de restauração de injustiças históricas e atuais, e afirmativa de direitos e deveres, a partir de perspectiva integradora do Sul Global.
As reuniões e os trabalhos prosseguem e logo virão a público, de modo participativo, seus frutos.