A imprensa noticiou e comentou, ontem, a decisão da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e da Federação Brasileira de Bancos de suspenderem a publicação, previamente anunciada, de manifesto de entidades de representação empresarial pela harmonia entre os Poderes da República.
As críticas foram unânimes, sobretudo diante do fato de entidades do setor do Agronegócio — tido como apoiador incondicional do atual governo federal — terem feito publicar documento — leia, aqui — de críticas à governança e ao desalinho democrático da Presidência da República.
O teor da, — por sinal, anódina e — frustrada manifestação já havia chegado aos órgãos de comunicação. Sob o título “A praça é dos três poderes, ” afirmava: “A praça dos três poderes encarna a representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, essência da República. Esse espaço foi construído formando um triângulo equilátero, cujos vértices são os edifícios-sede de cada um dos poderes. Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais. Em resumo, a harmonia tem de ser a regra entre eles. Este princípio está presente de forma clara na Constituição Federal, pilar do ordenamento jurídico do país. Diante disso, é primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição nos impõe. As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população. Mais do que nunca, o momento exige do Legislativo, do Executivo e do Judiciário aproximação e cooperação. Que cada um atue com responsabilidade nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna. Este é o anseio da Nação brasileira.”
O que chamou a atenção, a par do frágil conteúdo do documento, foi o fato de uma instituição como a FIESP, que congrega as principais entidades de representação das mais relevantes unidades da produção industrial brasileira, ter-se omitido em face de uma crise institucional sem precedentes, com sérias ameaças à Constituição e ao Estado Democrático de Direito.
Agrava o juízo crítico da imprensa a evidência de que a mesma entidade havia apoiado, oficialmente, o processo de impeachment de Dilma Rousseff (veja, aqui), a par de ter colaborado, por seus membros, na condução do golpe militar de 1964, que inaugurou a ditadura civil-militar que duraria até 1985/86 (leia, aqui).
É importante ressaltar que há mais de uma centena de pedidos de impeachment, que aguardam a apreciação do Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, sendo certo que, segundo o noticiário, a decisão de suspensão da publicação teria sido tomada pelo Presidente da entidade empresarial, após conversa com o mesmo Deputado.
No que diz respeito à Febraban, as críticas também foram expressas por ex-colaboradores da entidade, como foi o caso de seu ex-economista-chefe, Roberto Luís Troster, que afirmou ser muito triste a decisão de não levar avante as objeções ao atual estado de coisas, em entrevista a Monalisa Pieroni, da Rede CNN Brasil, na noite de 30 de agosto.
“O momento pelo qual passa a política brasileira exige maior cuidado, clareza de posicionamento e a coragem de defesa da Democracia, diante de ameaças constantes,” afirma Alfredo Attié, Presidente da Academia Paulista de Direito, ao elogiar as manifestações publicadas por empresários e pela Frente Nacional de Prefeitos, no dia de ontem — leia, aqui -, e criticar a omissão de entidades da sociedade civil, especialmente as ligadas à atividade empresarial industrial e financeira.
Leia, aqui, o Manifesto da Academia Paulista de Direito pelo Estado Democrático de Direito, de autoria de Attié, que é Titular da Cadeira San Tiago Dantas, sucedendo a Goffredo Telles Jr.
Attié lembra que San Tiago foi defensor corajoso da democracia, tendo buscado unir as forças políticas democráticas brasileiras para impedir e resistir ao golpe militar que se avizinhava, em 1964. Já Goffredo, conclui o Presidente da APD, “foi o autor da Carta aos Brasileiros, texto lido em 1977, em plena ditadura, que embasou a luta pela redemocratização,” que só alcançaria seu objetivo oito ou nove anos depois de tão brava iniciativa.
A POLIFONIA Revista Internacional da Academia Paulista de Direito publicará, em seu número 8, o inteiro teor da Carta, bem como fará breve homenagem ao Professor Goffredo Telles.