O Acadêmi­co Tit­u­lar da Acad­e­mia Paulista de Dire­ito, Pro­fes­sor Eméri­to da Uni­ver­si­dade Macken­zie, Ives Gan­dra da Sil­va Mar­tins criti­cou aque­les que desvir­tu­aram sua inter­pre­tação do arti­go 142 da Con­sti­tu­ição Fed­er­al, fazen­do uso inde­v­i­do e abu­si­vo de suas man­i­fes­tações a respeito do sen­ti­do desse dis­pos­i­ti­vo nor­ma­ti­vo.

Para o jurista, não há qual­quer nor­ma no sis­tema jurídi­co-con­sti­tu­cional brasileiro que autor­ize inter­venção mil­i­tar para sub­vert­er a ordem legal. Para ele, as Forças Armadas exis­tem para a garan­tia da lei e da ordem.

Ives Gan­dra reclam­ou do uso políti­co de sua opinião jurídi­ca, inter­pre­ta­da de modo incor­re­to pela extrema dire­i­ta, bem como das críti­cas que rece­beu da esquer­da, que tam­bém não com­preen­deu a inter­pre­tação que vem empreen­den­do da Con­sti­tu­ição de 1988, des­de a sua pro­mul­gação, em livros, arti­gos, aulas, entre­vis­tas e man­i­fes­tações, sem­pre públi­cas e aber­tas ao diál­o­go.

Ao jor­nal O Esta­do de S. Paulo disse que os apoiadores do atu­al pres­i­dente da Repúbli­ca e os adver­sários do gov­er­no dis­torce­r­am seu entendi­men­to: “não há, no arti­go [142 da C.F.] qual­quer brecha para fechamen­to de Poderes. Quem fala que per­mite golpe é igno­rante em Dire­ito. Tan­to da situ­ação quan­to da oposição. As Forças Armadas não têm condição de dar golpe. Se têm, estão violan­do a Con­sti­tu­ição e elas não farão nun­ca isso.

É inad­mis­sív­el que os mil­itares ven­ham a romper a lei e a ordem. O uso das Forças Armadas não pode ser feito de modo uni­lat­er­al por qual­quer um dos Poderes, para inter­vir nos demais, afir­mou ao jor­nal Fol­ha de S. Paulo, pois “esse Poder seria parte e juiz ao mes­mo tem­po, o que é inad­mis­sív­el.

Ives Gan­dra con­clui: “as Forças Armadas são escravas da Con­sti­tu­ição, do Esta­do de Dire­ito. Quan­do esse dis­pos­i­ti­vo foi colo­ca­do na Con­sti­tu­ição, foi para nun­ca ser uti­liza­do, porque os poderes são har­môni­cos e inde­pen­dentes e nun­ca terão esse prob­le­ma. Quem fala que per­mite golpe é igno­rante em Dire­ito.

O Acadêmi­co ain­da criti­cou o pres­i­dente da Repúbli­ca, por estar em man­i­fes­tações em que se fala de fechamen­to de Con­gres­so e do Supre­mo, “o pres­i­dente não pode ter posições que podem dar a impressão de que ele estaria pres­ti­gian­do quem seria favoráv­el a fechamen­to do Supre­mo,” disse ao jor­nal­ista Vini­cius Val­fré. E não deixou de criticar o Min­istro Cel­so de Mel­lo, por “ante­ci­par o que este­ja pen­san­do, já que ele é rela­tor de proces­so con­tra o pres­i­dente, e não tin­ha nada que faz­er aque­las con­sid­er­ações.

O Con­sel­ho Fed­er­al da Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil emi­tiu pare­cer con­trário à inter­pre­tação de que as Forças Armadas pode­ri­am agir de modo autônomo para inter­ferir nos Poderes. Tam­bém o atu­al Procu­rador-Ger­al da Repúbli­ca expres­sou con­trariedade à inter­pre­tação de que a Con­sti­tu­ição autor­izaria golpe de Esta­do.

A Acad­e­mia Paulista de Dire­ito per­manece unís­sona na defe­sa da Con­sti­tu­ição, e do Esta­do Democráti­co de Dire­ito que con­sagra. Para seu Pres­i­dente, Alfre­do Attié, “no sis­tema que a Con­sti­tu­ição esta­b­elece, inseri­do na ordem inter­na­cional, em que assumem papel de maior rele­vo os Trata­dos e doc­u­men­tos rel­a­tivos aos Dire­itos Humanos, que con­sagram múlti­plas cláusu­las democráti­cas, as Forças Armadas estão sub­meti­das à chefia e ao con­t­role civ­il, não ten­do capaci­dade de ação autôno­ma.