Pioneiro na área de mercado de capitais, o paulistano Raymundo Magliano Filho, nascido em 1942, formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, iniciou cedo sua vida empresarial, trabalhando na Magliano Invest, fundada em 1927, primeira corretora a operar na Bolsa de Valores.
Presidente da Bolsa de Valores, de 1997 a 200, depois da Bovespa, de 2001 a 2008, quando esta se fundiu à Bolsa de Mercadorias e Futuro, formando a B3, que, hoje, possui mais de três milhões de investidores pessoas físicas. o que demonstra, segundo o atual CEO da B3, Gilson Finkilsztain, o êxito do trabalho de Magliano.
De fato, seu sonho era o de democratizar o Mercado de Capitais, o que levou avante por meio de programas como o “Bolsa de Valores Popular,” o “Mulheres em Ação” e o “Bovespa vai até você”, que, como noticia a Revista Forbes, transportava “profissionais da Bolsa em um furgão para todos os estados do Brasil com o objetivo de apresentar o mercado financeiro à população,” passando por escolas, sindicatos, universidades, e praia.Fez, ainda, do edifício sede da Bolsa, um espaço cívico,” como gostava de salientar, lugar de visitação e de eventos.
Todavia, Magliano não limitou sua atividade ao mercado de capitais. Grande admirador do jurista, cientista político, sociólogo e filósofo italiano Norberto Bobbio, fundou, na Bolsa, importante Centro de Estudos a ele dedicado, núcleo do que depois se tornou o Instituto Norberto Bobbio, com o qual a Academia Paulista de Direito tem a grata satisfação de contar como parceiro, desde 2017. O INB é o único dedicado ao eminente escritor torinese, no mundo, e realiza importante trabalho não apenas de divulgação de sua obra e legado, mas igualmente de difusão cultural, segundo os ideais da democracia e dos direitos humanos. sendo hoje presidido pelo Advogado Celso Azzi, formado em direito pela USP, Coordenador do Comitê Societário do Centro de Estudos de Sociedades de Advogados, da Ordem dos Advogados do Brasil, Vice-Presidente do Comitê Jurídico da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria, e Vogal da Asscoação Comercial de São Paulo. O INB tem ainda como membros os juristas Tércio Sampaio Ferraz Jr, Acadêmico Titular da Academia Paulista de Direito — que escreveu importante e comovente nota de homenagem a Magliano, publicada no jornal O Estado de S. Paulo — e Celso Lafer, Acadêmico Emérito da Academia Paulista de Direito, e como Coordenador Científico César Mortari Barreira.
Raymundo Magliano escreveu importantes artigos e livros, divulgando suas ideias e projetos originais, bem como interpretando e atualizando os autores de sua predileção, entre os quais, Hannah Arendt. É possível ler, aqui, uma dessas decisivas contribuições para o debate nacional.
Entre seus livros, estão Um Caminho para o Brasil: a Reciprocidade entre Sociedade Civil e Instituições, editado pela Contexto, em 2017, e A Força das Ideias para um Capitalismo Sustentável, pela Manole, em 2014.
A seriedade profissional e o sério comprometimento com seus valores faziam de Magliano um exemplo para as novas gerações, para as quais, aliás, dedicava todo seu empenho de formação. Os amigos e conhecidos recordarão igualmente seu bom humor e a conversa afável, com seu cuidado pela escuta e o desejo de aprender, debater, iluminando o mundo com sua cultura e ânimo inesgotável.
Vítima da Covid-19, faleceu em 11 de janeiro de 2021, aos 78 anos.