As causas do desas­tre ambi­en­tal decor­rente do vaza­men­to de óleo na cos­ta brasileira con­tin­u­am inex­pli­cadas. Entre­tan­to, as ver­sões con­tin­u­am a pro­lif­er­ar, ten­do como fontes os difer­entes órgãos de pesquisa e inves­ti­gação ofi­ci­ais brasileiros.

Após ter con­fir­ma­do a inter­pre­tação lev­a­da a cabo pelo Lab­o­ratório de Pesquisas da Uni­ver­si­dade Fed­er­al de Alagoas de imagem de satélite europeu, o Lab­o­ratório de Pesquisas da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro voltou a sus­ten­tar sua ver­são orig­i­nal (veja aqui), decor­rente de análise pre­lim­i­nar, fei­ta a pedi­do da Mar­in­ha brasileira.

A UFRJ voltou a afir­mar que o vaza­men­to teria por causa o der­ra­ma­men­to de óleo em região local­iza­da entre 600 e 700 km do litoral, na lat­i­tude da divisa entre os Esta­dos de Alagoas e Sergipe, como uma das hipóte­ses. No dia ante­ri­or, porém, havia con­fir­ma­do a afir­mação da UFAL (leia aqui), de que o vaza­men­to ocor­rera a 55 km da cos­ta do Esta­do da Bahia, na lat­i­tude dos Municí­pios de Ita­ma­ra­ju e Pra­do.

A primeira ver­são da UFRJ, decor­rente de análise pre­lim­i­nar de pos­sív­el local­iza­ção da origem do óleo, com base em com­posição ret­ro­spec­ti­va de cor­rentes marí­ti­mas e ven­tos, foi ado­ta­da pela Mar­in­ha brasileira , e, par­cial­mente pelo Gov­er­no. O Min­istério do Meio Ambi­ente, por sua vez, ado­ta­va uma per­spec­ti­va ide­ológ­i­ca, acu­san­do a Venezuela pelo der­ra­ma­men­to de óleo, e mes­mo afir­man­do, em twit­ter redigi­do pelo Min­istro, que a ONG Green­peace e seu navio (leia, aqui, a respos­ta da ONG) teri­am sido os cau­sadores do que con­sid­er­a­va ataque se não ao Brasil, pelo menos à atu­al gestão gov­er­na­men­tal.

O Min­istro, por out­ro lado,  teria sido crit­i­ca­do pela sociedade civ­il , por espe­cial­is­tas e téc­ni­cos da ativi­dade de sanea­men­to ambi­en­tal, de omis­são ou de demo­ra na toma­da de providên­cias. Leia, no doc­u­men­to a seguir, a man­i­fes­tação da Asso­ci­ação dos Servi­dores Fed­erais da Área Ambi­en­tal do Esta­do do Rio de Janeiro – ASIBAMA/RJ:

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Hoje, a UFRJ acres­cen­tou a sua ver­são orig­i­nal, mais duas out­ras hipóte­ses quan­to aos pos­síveis pon­tos de origem do vaza­men­to. Um deles,  pode­ria estar “a 350 km da cos­ta da Paraí­ba (primeiro esta­do atingi­do); o out­ro, a cer­ca de 400 km da divisa de Per­nam­bu­co e Alagoas”(leia, aqui) .

De qual­quer modo, a inter­pre­tação da UFAL foi rechaça­da, tan­to pela uni­ver­si­dade car­i­o­ca quan­to pelo IBAMA: “fatores mete­o­rológi­cos ou a pre­sença de microal­gas pode­ri­am ter influ­en­ci­a­do a super­fí­cie do mar de maneira que as ima­gens fun­cionassem como fal­so pos­i­ti­vo, indi­can­do algo que não é real,” comen­tou cien­tista dessa insti­tu­ição de ensi­no e pesquisa brasileira.

Final­mente, já no iní­cio da tarde, a Polí­cia Fed­er­al ofer­e­ceu mais uma ver­são, a de que o navio petroleiro Boubouli­na, de ban­deira gre­ga, de oper­ação da empre­sa Delta Tankers, em situ­ação irreg­u­lar especi­fi­ca­mente rel­a­ti­va ao descarte de óleo, teria sido apreen­di­do nos Esta­dos Unidos, lib­er­a­do, vin­do a obter petróleo em águas venezue­lanas, pas­sa­do pelo litoral brasileiro, ten­do então  der­ra­ma­do o óleo, e segui­do viagem em direção à África, (veja aqui).

Essa últi­ma ver­são, des­en­cadea­da por ordens de bus­ca e apreen­são no escritório da empre­sa oper­ado­ra do navio, no Rio de Janeiro, e divul­ga­da pela própria Polí­cia Fed­er­al, esbar­ra, con­tu­do, no fato de sig­nificar expressåo de inter­esse norte-amer­i­cano, rel­a­ti­va­mente ao boicote que impõe à Venezuela e ao povo venezue­lano (leia, aqui). Ao leitor aten­to não escapará o fato de o Finan­cial Times sub­lin­har mais de uma vez o fato de a Venezuela estar sob sanções dos Esta­dos Unidos.

Inde­pen­den­te­mente da afer­ição, ou mes­mo da pos­si­bil­i­dade de que ven­ha a ocor­rer a deter­mi­nação da causa do even­to que des­en­cadeou o desas­tre ambi­en­tal, o que este demon­strou foi a inca­paci­dade de con­t­role das ativi­dades econômi­cas de alto risco para o meio ambi­ente, e a ausên­cia de preparo para o enfrenta­men­to das con­se­quên­cias de aci­dentes de tal mag­ni­tude, sendo cer­to que a fal­ta de cuida­do na escol­ha das autori­dades respon­sáveis pela admin­is­tração de políti­cas públi­cas pos­i­ti­vas e de con­t­role do meio ambi­ente agra­va a con­fig­u­ração dos danos.

Os desas­tres ambi­en­tais tem se tor­na­do cada vez mais fre­quentes. No Brasil, recen­te­mente, tive­mos as queimadas na Amazô­nia, o rompi­men­to da bar­ragem de Bru­mad­in­ho, o vaza­men­to de óleo no litoral, e a ver­i­fi­cação da man­cha de poluição do rio Tietê, para referir ape­nas os casos mais graves.

Sem uma políti­ca ambi­en­tal segu­ra e pri­or­itária, o risco de even­tos voltarem a ocor­rer, cada vez com con­se­quên­cias mais sérias, aumen­ta. Políti­ca gov­er­na­men­tal “min­i­mal­ista”, afir­ma o Pres­i­dente da Acad­e­mia Paulista de Dire­ito, Alfre­do Attié, como a que ofer­ece o atu­al gov­er­no fed­er­al, em que a função do Esta­do se enx­er­ga como dimin­u­ta, e em que as medi­das gov­er­na­men­tais se resumem a cortes de recur­sos em ativi­dades vitais, como meio ambi­ente e edu­cação, faz desen­har no hor­i­zonte um futuro som­brio. Mais grave, prossegue Attié, “é o fato de isso sig­nificar des­cumpri­men­to da Con­sti­tu­ição, da leg­is­lação pro­te­ti­va ambi­en­tal, e de com­pro­mis­sos inter­na­cionais do Brasil.” O Pres­i­dente da APD acred­i­ta que é esse o fato inédi­to trazi­do pela atu­al admin­is­tração do País: “pela primeira vez, após a insti­tu­ição da nova ordem jurídi­ca democráti­ca de 1988, um gov­er­no afronta explici­ta­mente seus deveres con­sti­tu­cionais, negan­do val­or a con­quis­tas civ­i­liza­tórias não ape­nas do País, mas da humanidade, uti­lizan­do-se de mecan­is­mos fal­si­fi­cadores para trans­for­mar neces­si­dades humanas em meros jogos ide­ológi­cos,” diz. Para ele, “o meio ambi­ente, sendo o prin­ci­pal desafio de nos­so tem­po, exi­giria um pro­gra­ma de gov­er­no difer­ente, atu­al­iza­do, sério, imple­men­ta­do em con­jun­to com a comu­nidade inter­na­cional, ten­do o Brasil a vocação e o dev­er de lid­er­ança nesse proces­so, que foi ini­ci­a­do em Esto­col­mo, em 1972, e seguiu pas­sos impor­tantes com par­tic­i­pação e o enga­ja­men­to brasileiros, des­de 1992.”

A Acad­e­mia Paulista de Dire­ito con­tin­ua acom­pan­han­do o desen­ro­lar da bus­ca de elu­ci­dação e de solução do prob­le­ma do vaza­men­to do óleo.